6/13/2010

O Tzadik, uma Expressão da Misericórdia Divina

Junto com os outros chassidim chabad, estou lendo o capítulo chamado Shaar HaYchud v'HaEmuná("Portão da Unicidade e da Fé") do livro Tanya(1). Como fica claro pelo nome, este livro procura fortalecer a fé na unicidade de D-us. Unicidade não apenas no sentido imediato de que há apenas um D-us, mas principalmente no sentido de que não há nada além Dele. Para isso, o autor traz ensinamentos cabalísticos sobre a criação do mundo, detalhando as fontes espirituais deste que, por sua vez, derivam de D-us obviamente.
Ele inicia o livro comparando a criação com o milagre da abertura do Mar Vermelho. Resumidamente, explica que se para alterar uma característica de um ente da natureza como a água(de fluidez para solidez) é necessário que D-us permaneça atuando por todo o período( como está escrito que um "vento soprava ao leste"), quanto mais isso não é verdade em relação a toda a criação que é "algo derivado do nada"( "iesh me ayn"). Com isso, ele impugna a visão filosófica que aceita a criação do mundo por D-us, mas não aceita a Providência Divina. Ao mesmo tempo embasa a visão chassídica, em particular, e judaica, em geral, que é expressa nas nossas preces diária quando dizemos: "hamechadesh betuvo bechol yom tamid maaseh bereshit"( que renova com Sua Bondade todos os dias a criação inicial do mundo"). Em suma, ele esclarece que a criação é um processo constante, sendo assim, não apenas Ele supervisiona a criação a todo instante, mas também a recria a todo instante.
Depois, ele detalha como se dá o processo criativo de D-us. Aqui, claro, vou apenas pincelar o que está descrito no livro. A Cabalá ensina que primeiro há vários ocultamentos da Emanação Divina, processo denominado "tzitzum". Isto é necessário, pois Esta é infinita e, por isso, Ela não permitiria, por assim dizer, a criação de nada além Dela. Após esta condensação, D-us proclama os Dez Enunciados("Esser Mamarot") que são o fundamento de toda a criação( tanto do mundo material quanto dos espirituais). Portanto, o mundo é criado pela Fala Divina e as letras do alfabeto hebraico são os canais pelos quais cada ser é criado. Desde o sol até uma simples pedra têm como fonte a Fala de D-us que é canalizada pelas letras do alfabeto hebraico. A diferença é que quanto mais as combinações de letras se distanciam dos Esser Maamarot, menor energia espiritual elas canalizam e, com isso, menos significante será a criatura, por exemplo, uma pedra(2).
Em meio a essas explicações o Alter Rebe faz uma digressão citando um midrash( explicação da Torá) que ensina o seguinte: D-us, inicialmente, quis criar o mundo com o atributo de Severidade, mas Ele percebeu que o mundo não ia aguentar. Por isso, adocicou a Severidade com o atributo de Misericórdia.
A primeira pergunta que se impõe é: se D-us é essencialmente Bom, por que ele quis criar o mundo com Severidade? Além disso, o que significa adocicar com Misericórdia?
Severidade é o atributo divino conectado com ocultamento("tzimtzum"). O mundo material é onde há o maior ocultamento da espiritualidade, a ponto de parecer que esta não existe. Então, D-us criou o mundo com este ocultamento para que pudéssemos ter livre arbítrio, já que se tudo estivesse claro para nós, não haveria escolha real. Que façamos a decisão certa é fundamental, pois isto é o que acarreta o objetivo da criação: que este mundo seja transformado numa moradia para D-us( conceito de "dirá b'tachtonim", já explicitado em alguns artigos deste blog). Então, já está respondida a primeira pergunta. Dado o objetivo da criação, nada mais razoável que criar o mundo com o atributo de Severidade. Quanto à segunda, D-us nos deu a Torá na qual vários milagres são descritos. Além disso, D-us nos deu os tzadikim(justos). Dessa forma, emancipamos-nos do mundo material, estudando a Torá e nos conectando com os tzadikim. Isto é o atributo de Misericóridia. Assim, nos é facultada a possibilidade de em meio ao turbilhão material do qual dificilmente escapamos quando estamos no mundo, de nos conectarmos plenamente com D-us. O que devemos fazer é estudar e praticar a Torá e nos conectarmos com os tzadikim.
Como esta semana, é o aniversário de falecimento do Rebe de Lubavitch, Rabino Menachem Mendel Schneerson, enfatizo aqui a importância da conexão com os tzadikim. O Rebe é o grande líder do povo judeu e tzadik de nossa geração. Então, se queremos nos elevar, a conexão com o Rebe é fundamental. Para isso, a sua presença física não é imprescindível. Como ele mesmo ensinou em seu livro Hayom Yom, a ligação com o Rebe se dá na medida em que estudamos sua Torá, seguimos seus ensinamentos e nos associamos com os que lhe são mais próximos, os seus chassidim.
Que a partir dessa semana possamos cada vez mais nos conectar com esse grande líder espiritual de nossa geração e, com isso, certamente fortalecermos nossa conexão com o Rei dos Reis, HaKadosh BaruchHú.(3)

Notas:
(1) Os chassidim também estão lendo esse capítulo porque ele faz parte do estudo anual do Chitas(Chumash, Tanya e Tehilim), instituído pelo Rebe Anterior e reforçado pelo Rebe.
O livro Tanya é o livro-base da chassidut chabad. O Shaar HaYchud v'HaEmuná está no volume três da tradução com explicações que existe em português. Claro que aqui fiz apenas um pequeníssimo resumo, por isso, recomendo fortemente a leitura deste capítulo do livro.
(2) Todos os antropomorfismos devem ser entendidos como metáforas que servem para que possamos entender um pouco mais sobre o que nos transcende completamente. Como está escrito: "a Torá é escrita na linguagem dos homens"( Mechita e Tanchuma em Shemot). Então, por exemplo, este nível de Emanação Divina é chamado de Fala, pois distingue-se por revelar algo ao outro, assim como a nossa fala...
(3) Para saber mais sobre este grande tzadik, clique no site do chabad aqui: http://www.chabad.org.br/rebe/index.htm. Hoje, há vários livros e sites com os ensinamentos do Rebe, traduzidos para português, inglês e espanhol.

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