6/24/2009

O Rebe: Informe-se e Inspire-se

Nesta noite(guimel Tamuz ou 3 de Tamuz), completam-se quinze anos de falecimento do maior tzadik(justo), sábio e líder do povo judeu em nossa geração: Rabino Menachem Mendel Schneerson ou simplesmente o Rebe.
É inadmissível que não conheçamos a vida, os ideais e o trabalho deste grande homem.
Gosto muito da maneira como o descreveu o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, após uma visita ao Rebe: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."
Para começar a entender os motivos de tanta deferência recomendo fortemente que você leia sobre o Rebe no site do Chabad em português: http://www.chabad.org.br/rebe/index.htmou ou para mais informações vá ao site do Chabad em inglês no link: http://www.chabad.org/generic_cdo/aid/142232/jewish/3-Tammuz.htm.
Certamente, é inspirador!

6/18/2009

A Origem Divina da Torá Oral e da Lei Judaica

" Se a Bíblia é o elemento mais básico do judaísmo, então o Talmud é seu pilar central, estendendo-se desde as suas fundações e sustentando todo o seu edifício"
Rabino Adin Steinsaltz

Voltando a idéia original de responder a questões fundamentais e frequentes sobre o judaísmo, escreverei sobre o oitavo princípio da fé judaica: "Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu". Isto inclui a Torá Escrita ou o Pentateuco e a Torá Oral ou "Mishná" e "Guemará"( esses termos serão explicados ao longo do texto) em que são baseadas a Lei Judaica, a Halachá.
Vou me deter na Torá Oral, uma vez que já discuti a origem divina da Torá Escrita em postagens anteriores. A Torá Oral é constituida basicamente por explicações do conteúdo da Torá Escrita. Por exemplo, só sabemos como devem ser feitos e como amarrar os Tefilin(filactérios que devem ser colocados todos os dias) por causa da Torá Oral, já que no Pentateuco está escrito apenas para colocarmos "totafot" em nossas mãos e entre nossos olhos.
O primeiro conceito fundamental é o de que a Torá Oral também foi revelada a Moshe por D-us. Como sugere o nome, esta parte dos ensinamentos não foram escritos. Eles foram passados de geração em geração de forma oral desde Moshe para Joshua até a geração do Rebe ou Rabino Yehuda HaNasi(1) que compilou a maior parte desse conhecimento na Mishná por perceber que este conhecimento poderia se perder. Até então os Sábios apenas faziam anotações para uso pessoal ou de seus alunos. Depois, Rav Ashi compilou a o Talmud babilônico e RavYochanan compilou o Talmud de Jerusalém.
O Talmud que é a união de Mishná com Guemará, basicamente, registra as discussões dos Sábios sobre a Mishná. Portanto, na verdade, há uma linha direta de transmissão entre os Sábios do Talmud e Moshe que, por sua vez, recebeu a Lei diretamente de D-us. Assim, ao estudar e cumprir a Lei Judaica que é baseada no Talmud, estamos estudando e cumprindo a Vontade de D-us.
No entanto, é preciso esclarecer que tipo de discussão há no Talmud. Como explica o Rambam ou Maimônides(2) no livro Mishneh Torah, o que foi recebido por tradição do Monte Sinai não é objeto de discussão. Basicamente, a discussão gira em torno das derivações legais que se fundamentam na lógica e nos 13 princípios de interpretação(3) da Torá que, por sua vez, foram revelados a Moshé no Monte Sinai. Isso quer dizer que especialmente nas primeiras gerações de Sábios havia pouca discordância e a que havia era circunscrita a formas de interpretação reveladas a Moshé. Depois, como também explica o Rambam houve mais discordância porque o nível de erudição dos Sábios foi progressivamente diminuindo. Então, já não era mais tão óbvio para as gerações posteriores o significado de algumas Mishnayot que foram escritas de forma bastante concisa , sendo necessário discuti-las e estudá-las de maneura mais detalhada. Essas discussões são registradas na Guemará. Com isso, temos o legado do que foi passado a Moshé(Mishná) com suas explicações(Guemará).
Além disso, os Sábios fizeram decretos com o objetivo de prevenir a transgressão conforme o comando na Torá(Leviticus 18:30): " E você deve guardar meus preceitos" que pode ser interpretado como "faça salvaguardas para a Torá"(4). Além desse versículo, em Leviticus(17:11) lemos: "Não se desvie das instruções que eles te darão, nem para a esquerda nem para a direita", conferindo autoridade divina aos decretos dos Sábios.
A partir das discussões talmúdicas e dos decretos, os codificadores da Lei Judaica compilaram as Halachot(Leis), sendo o primeiro código legal o Mishneh Torá que também foi feito por causa da queda de erudição dos indivíduos de gerações posteriores que já não podiam mais chegar a conclusões finais, estudando o Talmud.
Em resumo, tudo o que está na Torá Oral tem origem divina seja porque é tradição diretamente proveniente do Sinai ou uma interpretação baseada nesta tradição ou um decreto fundamentado na Torá Escrita. Assim, compreendemos que a Halachá é a expressão da Vontade Divina e, portanto, segui-la é a melhor maneira de nos conectarmos com D-us!

Adendo - Cronologia da Torá oral:
Séc. IIIe.c. - Redação final da Mishná
Séc. Ve.c - Redação final do Talmud de Jerusalém
Séc. VIe.c - Redação final do Talmud Babilônico
Séc. XIIe.c - Redação do primeiro Código de Lei Judaica(Mishneh Torá pelo Rambam)

(1) Leia um texto interessante sobre Rabi Yehudá HaNassi http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=557&p=2
(2) Rambam ou Moshe ben Maimon(1135-1204) foi um grande rabino, codificador das leis da Torá, filósofo e médico espanhol.
(3) Eles são tão importantes que os estudamos todos os dias antes de rezarmos. Estão registrados em nossos Sidurim(livros de reza). É só procurar logo antes dos "pessukê dezimrá".
(4)Na tradução, não é possível entender como o verso implica isso, mas no original (que aqui será transliterado) é bem mais claro: "Umishmartem et mishmarti", implica "Assú mishmeret lemishmartí".

6/17/2009

Vídeo - Conexão Essencial

Conversando com algumas pessoas ouvi frases como "ser religioso não combina comigo" ou
"acho o judaísmo muito bonito, mas não fui criado de maneira religiosa e estou bem do meu jeito".
Para responder isso prefiro recomendar aqui um breve vídeo do Rebe de Lubavitch(1). Foi gravado no dia 13 de Tamuz que foi o dia em que o Rebe anterior(Yosef Yitzchok Schneersohn 1880-1950) havia sido libertado da prisão na Rússia. Ele tinha sido detido por preservar e difundir o judaísmo local. O Rebe começa falando sobre a libertação miraculosa, depois fala um pouco mais sobre milagres de maneira geral. Então, disserta sobre como cada judeu, independente do modo como foi criado ou ambiente em que vive, tem uma conexão essencial com D-us e com a Torá.
Não vou ficar descrevendo muito porque pode perder a graça... Então, assista e reflita!





(1) Não poderia descrever melhor o Rebe de Lubavitch(1902-1994) do que o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, fez após visitá-lo: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."

6/05/2009

Dalai Lama e o Judaísmo

Esta é uma história emocionante sobre as peripécias de um jovem judeu afastado da fé, que passa por várias crenças, até seu encontro decisivo com o Dalai Lama. Achei interessante postá-la aqui, pois ilustra bem o valor do que temos e a importância de explorarmos a riqueza da nossa Torá.

Encontro com o Dalai Lama por Chayim Walder

Nasci em uma casa totalmente secular. Não só secular, ateísta. Nós não acreditávamos em nada nem fazíamos Yom Kipur. Nem mesmo bar mitsvá me fizeram. Com a idade de quinze ou dezesseis anos, alguma coisa "virou" na minha cabeça. Passei a perambular com pessoas suspeitas. Parecia um louco, com uma careca aqui, outra ali, e uma crista no meio. Causei muito sofrimento e vergonha aos meus pais. Com "sofrimento e vergonha" eu me refiro a não querer entrar no exército. Se há uma religião na qual meus pais acreditavam, seu nome era "Exército de Defesa de Israel". Eu, no entanto, permanecera ateísta nessa religião também. Simplesmente não era para mim. Meus pais submeteram-me a uma lavagem cerebral, mas de nada adiantou. Vaguei bastante por Israel e passei o tempo com uma série de tipos estranhos. Só isso dá uma história per si. Acho que conheço cada trilha e cada caminho da Terra Santa. Decidi viajar para India, procurar um significado para a vida. Onde não estive? Errei por um monte de lugares, conheci pessoalmente uma série de seitas de todos os tipos e espécies. As pessoas não entendem o significado da atração que exercem todas estas seitas, mas quem esteve lá sabe muito bem. O motivo é simples: nesta era permissiva, um rapaz secular normal já passou, até a idade de dezessete ou dezoito anos, por todas as experiências materiais que existem na face da Terra. Há aqueles que procuram ainda mais experiências por algum tempo. Quem sabe ainda exista algo mais, que eles ainda não tenham experimentado. Procuram por um, dois anos mais. Aos 21 anos, todos já passaram por tudo. Muitos destes jovens acreditam que não há mais nada por que aspirar e não entendem para que continuar vivendo. Muitos jovens desistem de viver por não terem gosto pela vida. Somente então chega a compreensão de que, para se ter proveito de algo, é preciso experimentá-lo na medida certa e com moderação. Devido à grande incitação contra aqueles que cumprem a Torá, muitos nem pensam em se aproximar do judaísmo. Eles procuram por outra coisa e acreditam que a encontrarão na Índia. Há algo de fascinante na Índia; é preciso confessar. Lá, as pessoas vivem com uma mentalidade totalmente diferente. Não se apressam a lugar algum, não se preocupam com nada, têm resposta para tudo. E há pessoas simplesmente surpreendentes. Lá encontrei monges que tinham um autocontrole extraordinário: podiam flagelar-se, jejuar, ou não mexer uma mão durante anos. Encontrei até um monge que treinava a respiração. Ele decidira que, se a cobra podia controlar a própria respiração e prende-la durante longos minutos, ele também poderia. Impressionei-me muito com a devoção que eles aplicavam a seus objetivos. Eu não conhecia aquele tipo de coisa. Era filho de uma geração mimada, que nunca se esforçou por nada. Não podia deixar de me admirar pela determinação que demonstravam. Mas afinal, também desisti de sua fé. Disse comigo mesmo: "Qual o objetivo de tudo isso? Concordo que se deve admirar um homem que não levanta sua mão durantes anos, ou de um homem que controla a própria respiração – mas aonde eles chegam com isso?". Quanto mais me admirava de seu poder espiritual, mais os desprezava por desperdiçarem-no com coisas fúteis. Vaguei de um lugar para o outro, até finalmente chegar ao Dalai Lama. O Dalai Lama é tibetano de origem. Mas quando os chineses dominaram o Tibete e mataram milhares de tibetanos, seus fiéis conseguiram faze-lo fugir. Desde então, ele se encontra na Índia. O Dalai Lama é um dos únicos líderes do mundo que não quer saber de violência, ainda que seja por motivo de defesa. Graças a esta fé, o povo tibetano não tem uma terra, é desprezado e humilhado. No entanto, todos o adoram. Este homem também recebeu o prêmio Nobel por sua teimosa devoção à paz. Fiquei maravilhado com a personalidade do Dalai Lama. Ia todo dia, às quatro e meia da manhã, ouvir seu "sermão". Ele é um homem sábio e culto. Não encontrei nele nenhum ponto merecedor de crítica. Entrementes, lá em casa começaram a ficar preocupados comigo. Meu pai escreveu-me que tinha ouvido falar que eu enlouquecera. Respondi, com educação, que me encontrava às vésperas de uma grande decisão. Quando eu estava enviando a carta, dei-me conta de repente que, só pela maneira delicada de escrever, meu pai acharia que seu filho realmente ficara louco. Desde quando eu escrevia com tanta educação?! Naquela mesma noite, falei com um dos homens do Dalai Lama, que prometeu levar-me até ele depois de sua palestra. Realmente entrei em sua sala. Ele era um homem delicado e recebia a todos com simpatia. Curvou-se para mim e ofereceu-me uma cadeira. Falei rapidamente. Disse-lhe que naquela noite havia decidido fazer parte de sua seita, se ele me aceitasse. Ele perguntou-me, em inglês, de onde eu era. Respondi que era de Israel. Ele me perguntou se eu era judeu. Respondi que sim. Então ele reagiu de forma estranha. Sua face iluminada tornou-se surpresa, até um tanto irada. Ele disse que não compreendia minha decisão, e que não me permitiria levá-la adiante. Falou que todas as religiões tentavam imitar o judaísmo.Também disse que tinha certeza de que, lá em Israel, eu andara de olhos fechados. Usou esta expressão mesmo: "de olhos fechados". Ele pediu que eu pegasse um avião, voltasse a Israel e abrisse os olhos. Ainda acrescentou que "ninguém prefere a imitação ao original". Depois despediu-me com um gesto de sua mão. Naquele dia, não consegui pensar em outra coisa: "Eu, um rapaz de Israel, que não sei nada sobre a própria fé, tenho que passar por todas estas peregrinações para ouvir de um líder não judeu que fui cego, e que fui até o fim do mundo para encontrar algo que estava ao meu lado?". Voltei a Israel e ingressei em uma Yeshivá. Vi que o Dalai Lama tinha razão. No judaísmo há intensidade ao longo de toda vida. Existem leis, freios e muitas razões por que viver. Pelo menos 613! Dois anos após ter retornado ao judaísmo, recebi uma resposta para conhecer uma moça e aceite-a. Encontrei-me com uma jovem de minha idade. Como eu, ela também fizera "teshuvá"(retorno) depois de ter procurado resposta em Goa, na Índia. Tínhamos uma linguagem em comum. Descobrimos que nós dois cultiváramos as mesmas preocupações, o mesmo desânimo da vida, a mesma procura por um significado e a mesma volta às raízes. Depois de alguns encontros, comuniquei à shadchanit – a senhora que havia arranjado o nosso encontro – que eu gostara muito daquela jovem, e realmente decidimos ficar noivos. Logo depois do noivado, aproximei-me da shadchanit, dizendo que queria lhe pagar pelo favor. Mas ela não concordou. - Não mereço – disse ela.- Como assim, "não mereço?" – questionei.- Afinal, é costume judaico pagar pelos esforços de quem consegue arranjar um noivado.- Este realmente é um costume judaico – ela retrucou. – Mas eu não fiz o shiduch.- Então quem fez?- Não sei – ela respondeu. – Sua noiva veio até mim com um papelzinho, pedindo-lhe que a indicasse para você. Ela realmente não o conhecia, mas disse que alguém em quem confiava dera-lhe o nome. A festa do noivado terminou e saí para passear com minha noiva. Perguntei-lhe, desconfiado:- Qual é a história deste shiduch? Diga-me quem arranjou tudo, para que eu possa lhe restituir de alguma forma.- Para isso – disse-me-ela – você teria que viajar até a Índia.!- Eu ainda não lhe contei algo sobre a minha passagem pela Índia – ela começou a dizer calmamente. – No final de minhas buscas, acabei chegando até o Dalai Lama. Ele impressionou-me muito e decidi juntar-me à sua seita. No entanto, ele disse que, se eu era judia, não devia trocar o ouro pela prata. Que eu deveria voltar às minhas raízes. Depois, sussurrou algo a um de seus secretários, que desapareceu por alguns minutos, voltando com um pequeno cartão. O Dalai Lama copiou para mim um nome em um papelzinho e disse-me: "Esta é a sua alma gêmea".- Voltei a Israel e entrei em um internato de moças que fizeram teshuvá. O processo foi fácil e rápido. Como se diz, "descobri a luz". No início graças ao conselho do Dalai Lama, e mais tarde, por uma luz muito mais forte que me atraía.- Somente depois de um ano decidi procurá-lo. Dirigi-me a vários casamenteiros com o seu nome, mas eles não o encontraram nas Yeshivot de baalêi teshuvá. Finalmente, uma de minhas amigas começou a procurar entre os chassidim de Breslav, e lá encontrou-o. Desde o nosso primeiro encontro, soube que o Dalai Lama é um casamenteiro profissional. Ele sabia exatamente quem eu estava procurando e escreveu o seu nome no bilhete. Esta é a nossa história. Acho que é uma história muito especial. Estamos casados há três anos e temos dois filhos. Eu estou imerso no estudo da Torá o dia inteiro e minha esposa cuida do nosso lar de forma maravilhosa. Mesmo nossos pais, que são pessoas seculares, intelectuais e abastadas, não podem deixar de se admirar da forma como vivemos e do sucesso do nosso casamento. Eles também sabem da história com o Dalai Lama. Nossos pais até contam orgulhosamente aos seus amigos que o Dalai Lama, em pessoa, arranjou o casamento de seus filhos. A verdade é que, apesar de estarmos muito distantes do nosso passado, nós dois ainda temos no coração um cantinho quente reservado para o Dalai Lama. Ouvimos sobre mais alguns casos de pessoas que foram mandadas de volta por ele para Israel, para que se aproximassem de sua fé. Decididamente, um homem raro em sua espécie. Há alguns meses atrás ele veio em visita a Israel. Queríamos muito ir visitá-lo, por gratidão. Mas minha esposa disse: "Eu acho que ele preferiria que não fôssemos". Encarei-a por alguns momentos e percebi que ela tinha razão. Talvez aquela vontade fosse um artifício de nosso mau instinto, para causar uma confusão entre o sagrado e o profano. Depois que ele se foi, dirigi-me a meu rabino e perguntei-lhe o que era permitido e o que era proibido pensar a respeito do Dalai Lama. Meu mestre respondeu-me que, como ser humano, eu deveria sentir por ele muita gratidão e ver nele um "chassid umot haolam" – um justo entre os povos.Mas mais do que isso, ele mesmo não gostaria que eu sentisse. Pois de outra forma, teria aceito a mim e a minha esposa, e não nos teria mandado de volta às nossas origens. - Lembre-se dele como ser humano – aconselhou-me meu mestre rabino – mas esqueça-o como Dalai Lama. Isso não é bom para você. Voltei para casa absorto em meus pensamentos. Ele tinha razão, meu mestre. Não era só a gratidão que me fazia sentir atraído pelo Dalai Lama. Era ele mesmo, e talvez até mesmo aquilo que ele representa dentro de meu coração. O mau instinto tem seus métodos. Ele é mais forte do que a vontade do Dalai Lama – que eu me afaste dele – e mais forte do que a minha própria vontade. Idolatria não é uma coisa que se apaga tão rápido do coração. Cheguei em casa e, na frente de minha esposa, abri o álbum de fotografias. Peguei a foto do Dalai Lama e, com calma, rasguei-a. Não com ódio, mas com admiração. Ele sabe, melhor do que ninguém, que isto não representa ingratidão, mas sim a maior prova de minha gratidão por ele, cumprindo seu pedido da forma mais plena possível.

Tradução de Guila Koschland