12/09/2009

A Festa das Luzes

Nesta sexta-feira, começa Chanuká. Nesta festa, comemoramos a vitória dos macabeus sobre os gregos que queriam "helenizá-los" e também o milagre de, após retomarem o Templo Sagrado, os judeus acharem azeite puro e adequado para o acendimento da Menorá, que durou por oito dias quando naturalmente seria o suficiente para apenas um.
Chanuká nos ensina que não devemos de nenhuma maneira abandonar nossa herança sagrada de Torá e mitzvot, não importando o ambiente em que estamos. Além disso, mostra que apenas um pouco de luz é o suficiente para acabar com a escuridão.
É muito fácil lembrar desta data, cumprindo a importante mitzvá de Chanuká e, com isso, trazer mais luz para o mundo. É só ascender a chanukyá por oito dias a partir do dia 11/12.
Não deixe de cumprir esta mitzvá que nos ensina sobre a vitória da luz sobre a escuridão, que será totalmente revelada com a chegada de Mashiach, que seja em nossos dias!
Para saber mais sobre a Festa das Luzes e a maneira correta de ascender as velas clique aqui: http://www.chabad.org.br/datas/chanuca/index.html

12/04/2009

Onde você está em 19 de Kislev?

Este domingo, 19 de Kislev, é uma data muito especial. Comemora-se, entre outras coisas, a saída do Alter Rebe( primeiro Rebe de Lubavitch) da prisão. Ele havia sido preso, basicamente, por difundir os ensinamentos da chassidut( a parte mística da Torá) entre muitos judeus. É o autor do livro Tanya que é a base da chassidut chabad( acróstico para chochmah, binah e daat - sabedoria, conhecimento e entendimento), a chassidut que enfatiza a contemplação e a meditação para que o serviço a D-us seja mais completo. Depois de ser libertado, o Rebe Shneur Zalman passou a intensificar e expandir os seus ensinamentos de chassidut, por isso, a sua libertação é comemorada não apenas como a redenção de um grande líder e tzadik(justo), mas também como uma salvação para os chassidim especialmente e para todos os judeus de modo geral. É uma data tão importante que é considerada o Rosh Hashaná da chassidut.
Para homenageá-lo conto uma história de quando ele estava na prisão:
O seu investigador-chefe foi pessoalmente a sua cela para conversar com ele. Logo percebeu que não se tratava de uma pessoa comum. Então, ele que era um homem culto e versado na Bíblia, resolveu tirar uma dúvida. Perguntou qual era o sentido da passagem em que após o pecado de Adam, D-us pergunta "Onde está você?". Aparentemente não faz sentido, já que D-us certamente sabe onde ele está. Então, o Rebe citou a explicação do Rashi( Rabino Shlomo Yitzchak, grande comentarista da Torá e do Talmud) a qual diz que este tipo de pergunta acontece em outras ocasiões nas Escrituras e que seu motivo é que esta é uma maneira de começar uma conversa. D-us procura não assustar o seu interlocutor(mesmo para Adam não deve ser uma experiência tranquila falar com HaKadosh Baruch Hu, o Rei dos Reis).
O investigador-chefe, então, replicou que ele já conhecia esta explicação. Queria saber se o Rebe tinha uma outra. Então, o Rebe perguntou se ele acreditava na verdade das Escrituras Sagradas e ele respondeu que sim. O Rebe, satisfeito por ter encontrado um investigador temente a D-us, explicou que esta era um chamado divino e eterno para cada homem, demandando constantemente: "Onde você está espiritualmente?". A cada homem é atribuído um certo número de dias na Terra para que a cada dia ele se dedique ao seu dever perante D-us e perante o homem. Então, esse chamado divino é diário para cada pessoa, demandando introspecção e auto-exame. Por exemplo, você - disse o Alter Rebe ao investigador - que tem tantos anos de idade( ele disse exatamente a idade do investigador) deve perguntar a si mesmo o que você alcançou em todos esses anos, quanto bem você já fez e o que ainda tem que fazer...
O investigador ficou impressionado com a explicação e com a adivinhação da sua idade. Ele fez mais perguntas ao Rebe sobre o judaísmo e sobre a Torá. Ficou cada vez mais impressionado e exclamou: "Isto é realmente divino!"

Recomendo fortemente que você procure conectar-se aos ensinamentos do Alter Rebe indo a uma aula de chassidut no seu Beit Chabad mais próximo ou simplesmente lendo o Tanya que tem tradução e explicações em português.

11/12/2009

Encontro de Extremos

Neste Shabat, leremos a parashá "Chayei Sarah" que nos conta sobre a morte de nossa matriarca Sara e sobre o casamento de Yitzchak e Rivka. Para entender melhor o significado deste casamento, uma sinopse de uma sichá do Rebe:
Antes do seu casamento, Yitzchak tinha alcançado um grande nível de perfeição espiritual. Já no começo de sua vida, ele foi o primeiro judeu a ser circuncidado com oito dias. Depois, ele foi educado por Avraham Avinu e mais tarde mostrou estar disposto a sacrificar a própria vida por D-us no episódio da Akeida(quando Avraham achou que teria que sacrificar seu próprio filho). A partir de então, Yitzchak passou a ter a santidade de uma oferenda queimada( uma das oferendas que eram feitas no Templo sagrado).
Por outro lado, Rivka era uma rosa entre espinhos. Nasceu em uma família de idólatras iníquos.
A união entre os dois foi, então, um encontro de extremos. E justamente por causa disso, foi registrada na Torá. Isso porque a Torá é ela própria um guia para a união de extremos. Quando qualquer mitzvá é cumprida, um objeto físico e mundano torna-se permeado por Divindade e santidade.
Portanto, o casamento entre Yitzchak e Rivka representa o casamento do espiritual com o físico. E isso explica por que a nossa Parashá passa tanto tempo discutindo a história deles, já que essa foi a base para tudo que se seguiu.

11/01/2009

Duas Revoluções: O Prelúdio da Redenção

Apesar de já estarmos lendo a parashá Toldot que nos conta sobre o nascimento dos filhos de Yitzchak, Eisav e Yaakov, trago uma outra sinopse de uma sichá do Rebe relacionada com a parashá Noach. Ela explica a relação entre chassidut e revolução industrial com Mashiach à luz do ensinamentos do sagrado Zohar( livro base da Cabalá).
No Zohar, a seguinte previsão é feita:
No ano 600 do sexto milênio(ou seja, ano 5500 no calendário judaico ou 1740 no calendário comum), haverá uma abertura dos portões celestiais superiores da sabedoria e das fontes inferiores da sabedoria, preparando o mundo para o sétimo milênio(isto é,para a redenção final). Da mesma maneira que uma pessoa começa a preparar-se para o Shabat na sexta-feira,quando o sol começa a cair. Isto é indicado pelo verso 11 da parashá Noach: "No ano 600 da vida de Noach... romperam-se todas as fontes do grande abismo e as janelas dos céus foram abertas...".
Aproximadamente a partir de 1840, duas grandes escolas de pensamento causaram revoluções em suas esferas de influência( após início do desenvolvimento no século anterior). No mundo judaico, o movimento chassídico popularizou os ensinamentos do misticismo e da Cabalá . No mundo secular, a revolução industrial atingiu seu pico. Esses dois desenvolvimentos eram a "abertura dos portões celestiais superiores da sabedoria e das fontes inferiores da sabedoria" a que o Zohar se referia.
O Zohar afirma que esses dois desenvolvimentos são uma preparação para a redenção final com Mashiach. Isto traz a pergunta: Pode-se compreender por que a disseminação do misticismo judaico é uma preparação para a redenção, uma vez que com a chegada de Mashiach, " a terra ficará cheia com o conhecimento de D-us"(Isaías 11;9), do qual os ensinamentos da Cabalá são um aperitivo. No entanto, por que o desenvolvimento científico e tecnológico são um prelúdio para Mashiach?
Uma das profecias sobre a época da redenção é a de que " toda carne verá que D-us está falando"(Isaías 40:5), ou seja, a presença de D-us será apreciada por nossos sentidos físicos. Os desenvolvimentos científicos dos últimos 150 anos trouxeram aos nossos sentidos fenômenos que eram previamente tidos como super-naturais. Por exemplo, pela televisão, rádio e telefone, o homem é capaz de ver e ouvir de um canto do mundo a outro instantaneamente. Então hoje, o conceito de que há " um Olho que vê, e um Ouvido que ouve, e todos os seus atos são escritos num livro", não é mais algo que é deixado apenas para a imaginação apreciar, já que agora nossos sentidos físicos podem começar a apreciar este fenômeno também.
Esta era a intenção do Zohar ao conectar a revolução científica com a vinda de Mashiach. A tecnologia moderna trouxe fenômenos inimagináveis para os nossos sentidos, que nos ajudam a visualizar o tempo em que " toda carne verá junta que D-us está falando".

10/23/2009

O Rebe e Victor Frankl

Em 1992, uma mulher de 85 anos vestida elegantemente e com aparência jovial e enérgica entrou na sala do rabino Jacob Biederman, emissário do Rebe na Áustria, e com sorriso no rosto se apresentou como cantora de ópera aposentada e a primeira emissária do Rebe em Viena! "Eu sei que você pensa que é o primeiro por aqui, mas eu sou a primeira na verdade! Muito antes de você!"
Resumindo a história dela, Margareta Chayos era descendente de uma família de Rebes de Vishnitz (uma das várias linhas chassídicas) que havia deixado sua casa tradicional para ir para "o mundo real". Foi para Viena antes da guerra e se tornou uma famosa cantora de ópera nos anos 30. Em 1939, chegou a cantar duas vezes para o próprio Hitler! Mas, quando a Segunda Guerra começou, sua carreira em Viena terminou e ela conseguiu ir para os EUA. Sua famíla e amigos pereceram na guerra e no holocausto. Muito tempo depois por providência divina, Margareta teve uma audiência particular com o Rebe: " Eu entrei no quarto do Rebe, não sei explicar, mas de repente, pela primeira vez após o Holocausto, senti que podia chorar. Como muitos que perderam famílias e comunidades inteiras, eu nunca tinha chorado. Nós sabíamos que se começássemos a chorar, poderíamos não parar mais ou que para sobreviver não poderíamos expressar emoções. Mas, naquele momento, era como se o que obstruia minha torrente de lágrimas houvesse sido removido. Comecei a derramá-las como um bebê. Dividi com o Rebe minha história: infância inocente, saída de casa para Viena, me tornando um celebridade, me apresentando diante de Hitler, escapando para os EUA, sabendo sobre a morte dos meus mais próximos amigos e familiares."
O Rebe ouviu com seus olhos, com seu coração, com sua alma, e internalizou tudo. Dividi tudo e ele absorveu tudo. Naquela noite, senti que tinha ganhado um segundo pai. Senti que o Rebe me havia me adotado como filha.
No final do nosso encontro, expressei meu desejo intenso de voltar a Viena e o Rebe me pediu que antes de ir, eu o visitasse novamente.
Então, alguns meses depois antes de viajar para Viena me encontrei com o Rebe e ele me pediu dois favores. Primeiro, que eu visitasse o Rabino Chefe de Viena e o segundo que eu visitasse um certo professor na Universidade de Viena. O Rebe falou em alemão para que eu pudesse entender: Seu nome é Dr. Frankl. Mande minhas lembranças e diga a ele no meu nome que ele não deve desistir. Ele tem que continuar firme e continuar seu trabalho com vigor e paixão. Se ele assim fizer, ele vai prevalecer."

Apesar das dificuldades em encontrar o tal doutor, ela conseguiu chegar à casa dele:

" Uma mulher abriu a porta e eu vi atrás dela um quarto cheio de cruzes, deveria haver algum engano, não pode ser esta a casa da pessoa que o Rebe queria encorajar, mas mesmo assim perguntei pelo professor.
Momentos depois um homem de meia idade veio para a porta, ele estava extremamente tenso, e parecia bastante desinteressado. Eu disse: Tenho lembranças do Rabino Schneerson do Brooklyn, NY. "Quem é esse?", ele perguntou impacientemente.
O Rabino Schneerson me pediu para te dizer em nome dele que você não pode desistir, você tem que continuar forte com seu trabalho e com determinação inabalável que você vai vencer. Não caia no desespero. Se você marchar com confiança, ele prometeu que você vai conseguir grande sucesso.
O professor mudou. Ele olhou para mim como se estivesse vendo um fantasma. Um minuto depois ele estava chorando como um bebê. " Eu não posso acreditar nisso" ele dizia repetidamente enquanto fazia um gesto para eu entrar. "
Após acalmar-se, ele disse: "Esse rabino do Brooklyn sabia exatamente quando enviá-la. É um verdadeiro milagre! Você me salvou!" Ele começou a chorar novamente e não sabia como agradecer.
Rabino Biederman, ela disse com um sorriso, isto aconteceu há mais de 40 anos, , então sou emissária do Rebe muito antes de você! "
Depois de ela ir embora, o intrigado rabino Biederman começou a investigar e descobriu que Victor Frankl ainda estava vivo com 87 anos e que ele era bem famoso. Era também um doador regular para o Chabad House de Viena!
Então, ele ligou para o doutor Frankl e perguntou se ele lembrava dessa história. Ele disse: "Não lembro do nome da mulher, mas claro que lembro daquele dia! Nunca vou esquecer isso! Minha gratidão ao rabino Schneerson é eterna!" Então, ele se convidou para a casa do Dr. Frankl onde ficou sabendo do resto da história.

"Ele me contou que ainda jovem ele destacou-se no estudo de neurologia e psiquiatria e no começo dos anos 20, ele fez parte do círculo do famoso Dr. Sigmund Freud.
Mas, quando os nazistas tomaram o poder tudo mudou. Ele, seus pais, sua mulher grávida e todos que lhe eram queridos foram para campos de concentração. Todos foram mortos, exceto ele. Mas, apesar de tudo, ele manteve um espírito positivo. E este era o seu problema!
Já antes da guerra e durante seus três anos nos campos de concentração,ele desenvolveu idéias contrárias às dominantes teorias negativas de Freud e seus discípulos.
Freud acreditava que humanos são animais vulneráveis e egoístas, governados pelo passado, por frustrações subconscientes e tomados por neuroses, complexos e psicoses. O único própósito da terapia, de acordo com ele, era liberar o paciente destes problemas, nada mais. Mas, Frankl ensinou que a essência do homem é a sua capacidade de auto-transcendência, nunca definida por circunstâncias da vida e limitações, pelo contrário, responsável por reformar estas condições, definindo seu significado e mensagem"
Disse Frankl:
"Nós que vivemos nos campos de concentração nos lembramos das pessoas que ficavam confortando as outras, dando-lhes seu último pedaço de pão. Talvez, fossem poucas, mas elas são prova suficiente de que tudo pode ser tirado do homem exceto uma coisa: A última das libedades humanas - escolher que atitude tomamos em qualquer circunstância, escolher o nosso caminho".
No entanto, nas universidade dos anos 40/50 as idéias Freudianas reinavam e as de Frankl eram descartadas como religiosidade fanática, que ressucitava conceitos antigos e não científicos de consciência, fé e obrigação. Para os estudantes não era popular ir aos seus cursos.
"Rabino Biederman, exclamou Frankl, eu sobrevivi aos campos de concentração e mantive meu espírito lá, mas não conseguia sobreviver ao impiedoso desprezo dos meus colegas. Finalmente, após anos disso, eu estava exausto e deprimido. Fiquei melancólico e decidi parar. Eu não tinha amigos, incentivadores ou discípulos. Comecei a preparar os papéis da minha aposentadoria.
Então, subitamente, uma mulher aparece me mandando lembranças do rabino Schneerson do Brooklyn! Esperança! Inspiração! Eu não podia acreditar no que estava ouvindo! Alguém no Brooklyn, nada menos do que um Rebe chassídico, sabia sobre mim! Me apreciava! Ele se importava. Naquele momento, eu não era ninguém, rejeitado e sozinho! Isto foi um milagre! Como ele fez isso?
De fato, as palavras do Rebe se tornaram verdade. Eu lutei! E, pouco tempo depois, me deram uma Cadeira na universidade. Meu livro "A Busca do Homem por Sentido" foi traduzido para o inglês e de repente me tornei um dos mais celebrados psiquiatras da geração.
Alguns anos atrás, o Chabad veio para Viena e eu passei a ser um doador."

Pelo menos, o rabino Bierderman entendeu por que ele recebia um cheque por correio sempre antes do Yom Kipur.
O livro do Victor Frankl se tornou uma pedra fundamental para uma virada na psicologia, colocando-a num caminho mais positivo. Ele escreveu 32 livros que foram traduzidos para 30 línguas. Ele tornou-se palestrante convidado de 209 universidades nos 5 continentes, recebeu 29 doutorados honorários de universidades de todo o mundo( mais do que qualquer outra pessoa) e recebeu 19 prêmios nacionais e internacionais pelo seu seu livro " A Busca do Homem por Sentido" que vendeu 10 milhões de cópias e foi listado como um dos mais influentes do século pela Biblioteca do Congresso(americano)!
Mas a história ainda não acabou.

Em 2003, o doutor Shimon Crown, um chassid australiano e expert no pensamento de Frankl, foi visitar sua viúva católica. Eles falaram durante horas e num determinado momento, ela pegou um par de tefilin e tzitzit e mostrou a ele: " Meu marido colocava-os todos os dias, ele nunca perdeu um dia!"

Para mim essa história é muito interessante por três motivos. Primeiro, porque um dos autores que me influenciaram antes de eu ficar observante foi o Victor Frankl. Eu nunca poderia imaginar que o Rebe tivesse tido uma influência tão grande na vida dele, apesar de saber que o ele o recomendava quando era perguntado sobre psicologia. Depois, porque ela mostra a influência que o Rebe tem sobre todos os judeus e como ele se importa com todos. E isto, certamente, fez com que ele influenciasse o mundo todo de forma positiva, já que como neste caso, ele teve papel importante na vida de pessoas que, por sua vez, influenciaram milhões de outras de muitas religiões e etnias diferentes. Por fim, ela é mais um exemplo (neste caso na psicologia), de conciliação entre Torá e ciência. Essa que muitas vezes ocorre, mas nem sempre é possível nem necessária contanto que saibamos em que cada uma delas consiste. Mas, isso já é outro assunto. Com a ajuda de D-us, vou escrever um pouco sobre isso em breve.


10/08/2009

Por quê cobrir a Torá?

Neste sábado à noite começa Simchat Torá. Não deixe de ir à sua sinagoga celebrar a nossa Torá!
Abaixo, um trecho de uma sichá(discurso) do Rebe sobre Simchat Torá.
Chag sameach!

"É nosso costume conduzir hakafot(dançar com a Torá) em volta do local onde se lê a Torá com ela envolvida por sua cobertura.
Poderíamos perguntar: Se a Torá é sabedoria e intelecto, não seria mais apropriado celebrar Simchat Torá estudando-a, então, o entendimento intelectual motivaria a alegria, e não dançando, enquanto a Torá está coberta, sendo impossível sequer olharmos para ela?
A resposta é que a essência da Torá é mais elevada do que o intelecto e que a compreensão. Toda compreensão, qualquer que seja, é definida e limitada, e a Torá é a sabedoria divina que não tem fim nem limite, a Torá de D-us. Dançar com a Torá coberta enfatiza que nos regozijamos por celebrar nossa conexão com a essência da Torá, que transcende completamente a compreensão. Um judeu se alegra porque a Torá possibilita que ele se una com o Doador da Torá, e não meramente com o processo intelectual e entendimento no qual a Torá está investida.
De fato, análise intelectual da Torá é apenas um meio para nos conectar e unificar com a Torá em sua forma mais essencial, pois a "Torá e D-us são inteiramente um". Por causa disso, o júbilo é expressado pela dança, que utiliza os pés. O pé, por si mesmo, não tendo intelecto nem vontade, tem apenas o poder do movimento: é completamente subordinado à vontade que reside no cérebro. Dançar, portanto, indica completa abnegação, motivada pelo aceitameto do jugo dos Céus e fé simples na sabedoria e vontade de D-us investidas na Torá e em suas mitzvot.
Esta alegria na Torá, motivada pela fé simples e perfeita no Doador da Torá, cria uma fundação poderosa para o envolvimento com Torá e mitzvot por todo o ano."
Likkutei Sichot, vol 4, pág. 1168

Netanyahu, o Rebe e as Nações Unidas

Este blog não é voltado à política, mas recomendo fortemente que você assista ao vídeo do Netanyahu(primeiro ministro de Israel),discursando na ONU no dia 24 de setembro deste ano em resposta à posição persistentemente anti-israelense da instituição que culminou com o discurso do Ahmadinejad. Leia o texto abaixo(retirado do site do chabad) e veja que o Rebe que o inspirou a fazer um discurso tão impactante e sincero onde o politicamente correto(e factualmente incorreto) costuma imperar. Mas antes, assista ao discurso no link: http://www.youtube.com/watch?v=44HkjBDQz_k

Netanyahu, o Rebe e as Nações Unidas

Geralmente, quando estão na ONU, muitos líderes judeus ficam intimidados e extremamente diplomáticos. Porém neste momento o Primeiro Ministro levantou-se para a ocasião, transcendeu as circunstâncias restritas, não se deixou intimidar pelas vozes familiares que são lenientes com os líderes que pedem a destruição de uma nação. Netanyahu – dessa vez – deixou falar a sua alma judaica. Sua voz foi a voz da história, da fé, da paixão e da nobreza judaicas. Não “gaguejou” nem ficou constrangido. Sua neshamá falou. É importante entender que esta é, creio eu, a primeira vez na história de Israel que num local tão público o Primeiro Ministro de uma democracia liberal secular, Israel, declarou que sua fonte de inspiração para confrontar as Nações Unidas era o Rebe!Lembro-me daquele momento, Simchat Torá 1984. Local: Sede de Chabad-Lubavitch, no 770 da Eastern Parkway. A hora: 1h30 da madrugada.O Rebe terminou seu farbrenguen (reunião chassídica) de Simchat Torá e foi à sinagoga para as hacafot - tradicional dança com a Torá, na noite mais feliz e uma das mais inspiradas do ano.As hacafot geralmente começam à 1 da manhã, e terminam por volta das 4. Cerca de 10.000 pessoas lotavam a sinagoga da Eastern Parkway. Lotada não é a palavra. Se você pulasse do teto, não cairia no chão, mas sim sobre os ombros das pessoas (na verdade, não era uma má estratégia, pois muitos fizeram justamente isso!)
Primeiro Ministro de Israel, Beniamin Netanyahu, mostrando uma cópia dos planos nazistas do Holocausto ao discursar na Assembléia nas Nações Unidas 24/09/2009 - Foto: UN/Marco Castro, publicada por chabad.org
Milhares de pessoas se comprimiam juntas, esperando ansiosamente pelo início das Hacafot. Uma sinfonia de 10.000 almas esperando para dançar com seu presente mais sagrado – a Torá. Mas, não. Um dos convidados que foram para ver as hacafot naquela noite era um judeu de 35 anos, Benjamin Netanyahu, que acabara de se tornar embaixador de Israel nas Nações Unidas (ele atuou de 1984 a 1988). Celebrando apenas um dia do feriado, membros da missão diplomática israelense em Nova York costumavam desde o início da década de 60 dirigirem-se anualmente de Manhattan a Crown Heights celebrar com o Rebe a noite de Simchat Torá.Quando o Rebe entrou, Netanyahu foi introduzido ao Rebe que saudou o Embaixador Netanyahu e os outros convidados do conselho israelense. Netanyahu falou em inglês: “Rebe eu vim lhe ver”, contado pelo próprio primeiro ministro. “E o Rebe me respondeu, ‘Somente ver? Não conversar?’. Pensamos que ele falaria com Bibi durante alguns minutos. Mas não! Passaram-se 5, 10, 20, 30, 40 minutos, e o Rebe ainda falava com Netanyahu.Em revcente depoimento, Netanyahu lembra que o Rebe trocou rapidamente o inglês para o hebraico e após 40 minutos parou. Disse o que queria ter dito, virou-se para a audiência e com um gesto de mãos começou a fazer os chassidim cantarem e dançarem.Devo confessar: eu estava me perguntando se seria aquela a ocasião apropriada para uma conversa tão longa com um político, enquanto 10.000 chassidim esperavam para dançar com a Torá e com o Rebe. Milhares de convidados do mundo inteiro tinham ido passar Simchat Torá com o Rebe. Ele não poderia conversar com Netanyahu em outra ocasião, em particular? [Rabino Lable Groner, secretário do Rebe, tentou intimar Netanyahu – e meu pai, que também estava presente – a sair, mas o Rebe não parava de falar com ele. Se não me falha a memória, a certa altura o Rebe voltou-se para Rabino Groner e disse: “Em vez de tentar interromper a conversa, traga l’chayim para os convidados.” Foi o que ele fez, e todos disseram l’chayim.]Netanyahu recorda-se dos detalhes: “Então algo aconteceu, nunca esquecerei pelo resto de minha vida. O Rebe e seu cunhado pegaram o Rolo da Torá e dirigiram-se ao centro do salão eu os observei dançando em um círculo de luz com a Torá. Senti a força de gerações, o poder de nossas tradições, nossa fé, nosso povo.”Quando perguntei a meu pai, Gershon Jacobson, um veterano jornalista judeu que acompanhava Netanyahu e estava de pé ali perto, o que o Rebe falara por 40 minutos, ele disse: “O Rebe estava falando sobre as Nações Unidas. Não sobre religião, Torá, o Yom Tov, Chabad, temas espirituais, mas sobre as Nações Unidas. Fiquei ainda mais intrigado: por que agora? Por que durante tanto tempo? E eu não tinha uma resposta.Passaram-se 25 anos. Um quarto de século. Dia 24 de setembro de 2009. Netanyahu atua como Primeiro Ministro de Israel. Nesse ínterim ele esteve por ali uma ou duas vezes, promovido, destituído, promovido e destituído novamente, e agora finalmente reeleito Primeiro Ministro.Nas Nações Unidas, o líder da Líbia se levanta e cospe seu ódio e suas ridículas acusações sobre quem realmente matou JFK. O Presidente do Irã se levanta e nega, mais uma vez, o Holocausto, Auschwitz, Treblinka, Dachau – nunca ocorreram.
Futuro Primeiro Ministro de Israel Biniamin Netanyahu em encontro com o Rebe, de abençoada memória, em chol hamoed Sucot
Imagine: sobreviventes do Holocausto, que perderam pais, irmãos, filhos e por vezes famílias inteiras no Holocausto estão sentadas nas suas casas, em seus sofás, com tatuagens nos braços, assistindo a CNN, escutando o líder de um país soberano negar que um milhão e meio de crianças foram enviadas aos crematórios! Que palhaçada! Que desgraça! Que chutzpá! Sem palavras. E a ONU fornece um fórum a este homem – o fórum internacional mais prestigiado – para pronunciar palavras como essas.Como se pode sequer entender o atrevimento de permitir que um homem desses fale? “Ele é presidente de um país, devemos dar-lhe uma plataforma” ouvimos com frequência. Verdade? Que vergonha. Judeus que perderam dez filhos em Auschwitz, precisam assistir a isto acontecendo na frente de seus olhos!Então chega a vez do Primeiro Ministro de Israek falar. Benjamin Netanyahu. E ele fala como um líder judeu deveria falar, sem vergonha, sem insegurança, sem ambivalência. Falou com orgulho, com dignidade, com uma voz de clareza moral, com uma paixão alimentada por milhares de anos de história e uma fé profunda, enraizada em nossa tradição.“No mês passado, fui a uma vila num subúrbio de Berlim chamada Wannsee. Ali, em janeiro de 1942, após uma farta refeição, funcionários nazistas importantes decidiram como exterminar o povo judeu. Os minutos detalhados daquele encontro tinham sido preservados por sucessivos governos alemães. Aqui está uma cópia daqueles minutos, nos quais os nazistas deram instruções precisas sobre como efetuar o extermínio dos judeus. “Isto é uma mentira?“E quanto aos sobreviventes de Auschwitz cujos braços ainda possuem os números neles tatuados pelos nazistas? Essas tatuagens são uma mentira? Um terço de todos os judeus pereceram na conflagração. Quase toda família judia foi afetada, incluindo a minha. Os avós da minha esposa, duas irmãs e três irmãos do pai dela, todos os tios, tias e primos foram assassinados pelos nazistas. Isso também é uma mentira?…“Ontem, o homem que chama o Holocausto de mentira falou neste pódio. Para aqueles que se recusaram a vir aqui e para aqueles que saíram da sala em protesto, eu faço um elogio. Vocês defenderam a clareza moral e levaram honra aos seus países. “Porém aqueles que deram ouvidos a esse negador do Holocausto, digo em prol do meu povo, o povo judeu, e às pessoas decentes em toda parte: Você não tem vergonha? Não tem qualquer decência? Umas meras seis décadas após o Holocausto, vocês dão legitimidade a um homem que nega a ocorrência do assassinato de seus milhões de judeus, e promete varrer do mapa a nação judaica.“Em 2005, esperando avançar no processo de paz, Israel unilateralmente se retirou de cada pedacinho de Gaza. Desmontou 21 assentamentos e deslocou mais de 8.000 israelenses. Não conseguimos a paz. Em vez disso tivemos uma base terrorista iraniana a 80 quilômetros de Tel Aviv. A vida nas aldeias e cidades israelenses perto de Gaza se tornou um pesadelo. Vejam vocês, os ataques com foguetes do Hamas não apenas continuaram, como aumentaram dez vezes. Mais uma vez, a ONU ficou em silêncio.“Finalmente, após oito anos desses ataques incessantes, Israel finalmente foi forçado a reagir. Mas como deveríamos ter reagido? Bem, há apenas um exemplo na história de milhares de foguetes sendo atirados sobre a população civil de um país. Aconteceu quando os nazistas bombardearam as cidades britânicas durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela guerra, os aliados arrasaram cidades alemãs, causando centenas de milhares de mortes. Israel preferiu reagir de modo diferente. Frente a um inimigo que cometia o duplo crime de atirar em civis enquanto se escondia atrás de civis – Israel procurou fazer ataques cirúrgicos contra os lançadores de foguetes.“Não foi uma tarefa fácil porque os terroristas estavam atirando mísseis a partir de casas e escolas, usando mesquitas como depósitos de bombas e atirando explosivos em ambulâncias. Israel, em contraste, tentava minimizar as perdas insistindo para que os civis palestinos deixassem as áreas que seriam atacadas.“Atiramos incontáveis folhetos sobre as casas deles, enviamos milhares de mensagens de texto e ligamos para milhares de celulares pedindo que as pessoas partissem. Jamais um país tinha chegado a medidas tão extraordinárias para remover a população civil do inimigo a fim de poupá-la.“Porém frente a um caso tão claro de agressor e vítima, a quem o Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu condenar? Israel. Uma democracia defendendo-se legalmente contra o terror é moralmente atacada, vilipendiada e tem de passar por um julgamento imparcial.“Segundo esses padrões distorcidos, o Conselho de Direitos Humanos da ONU teria arrastado Roosevelt e Churchill ao tribunal como criminosos de guerra. Que perversão da verdade. Que perversão da justiça.“Delegados das Nações Unidas, vocês aceitarão essa farsa?”Netanyahu fez escolhas no passado que têm lhe rendido muitas críticas. Porém quando ele falou dessa vez, estava certo. Realmente certo.Pude ouvir em sua voz não apenas a sua própria voz como político israelense. Pude ouvir a voz de Moshê, do Rei David e de Rabi Akiva; pude ouvir as vozes de seis milhões de judeus; pude ouvir as vozes das mais de 1.000 vítimas do terror mortas nas ruas e cafés depois de uma das maiores farsas da história moderna; os acordos de paz de Oslo que desencadearam uma das eras de violência mais sangrentas na história de Israel. Sim, eu também me senti orgulhoso ao ouvir suas palavras. E o fato de tantos se sentirem pouco à vontade somente provou-me como suas palavras atingiram o alvo.Porém me perguntei, após tantos anos com tantos líderes judaicos obscurecidos nos corredores da ONU e sob a atenção internacional diminuindo seu orgulho e senso de identidade, o que deu a Bibi a força de, naquela quinta-feira, falar como um judeu que carrrega a luz de 3.500 anos? Falar como Moshê falou com o faraó e Elijah falou com Achav? Falar como um judeu que não tem medo de seu próprio legado, história e identidade?Após seu discurso, a TV israelense entrevistou Netanyahu. Os repórteres israelenses são durões, cínicos, e não professam amor por Bibi. O repórter perguntou-lhe em palavras um pouco mais suaves: “O que acha que está fazendo aqui, mostrando plantas de Auschwitz e detalhes da reunião de Wannsee? Zombando da ONU na própria ONU? O que foi que o possuiu? Acha que consegue converncer Ahmedinejad?Nos corredores da ONU, depois de um discurso, você geralmente dá respostas curtas e diplomáticas. Esperávamos algo desse tipo por parte do Primeiro Ministro. Ele disse ao repórter que dessa vez iria se desviar do protocolo e contar uma história pessoal.Ele não relatou uma história ocorrida há seis meses ou um ano, mas sim uma com um quarto de século e que envolvia um mestre chassídico.“Eu estava com o Rebe de Lubavitch em Simchat Torá de 1984. Ele falou comigo não durante 5 ou 10 minutos, mas sim por 40 minutos, enquanto milhares de seus chassidim achavam que eu tinha afastado deles o Rebe em Simchat Torá. Escutei do Rebe muitas coisas, mas a maior lição foi o que me disse, ‘Lembre-se que em um local de trevas, se você acender uma pequena chama, esta luz dissipará toda a escuridão e será vista por todos mesmo a uma longa distância. Sua missão é acender esta chama pela verdade e pelo povo judeu.”Netanyahu cita a advertência feita pelo Rebe sobre representar Israel na ONU, na qual frequentemente ocorriam deliberações “numa casa de… total escuridão, uma pequena luz da verdade pode expulsar as trevas; seja aquela pequena luz da verdade.” O Rebe pronunciou essas palavras a um embaixador recente, que tinha apenas 35 anos de idade: ‘Há só uma maneira de erradicar mentiras (contra o povo judeu). Repita o acendimento da luz da verdade mais e mais e mais, e não pare.” “Isso é o que eu fiz hoje nas Nações Unidas,” disse Netanyahu à TV israelense e mais tarde a uma plateia lotada na 92nd Street Y, na quinta-feira.Então eu tive um flash back. De pé ali no 770, imaginando por que o Rebe sentiu o direito de falar com o novo embaixador durante 40 minutos. Demorou 25 anos para eu entender. O Rebe aparentemente tinha uma visão do futuro. Ele viu o Irã. O Hamas. Hezbolá. A Síria. A Al-Queida. E desejava infundir num Primeiro Ministro a coragem e a confiança para aproveitar o momento quando chegasse. Transcender as mentiras, a falsidade, o ódio irracional, para ali falar a verdade! Erguer a chama da moralidade, do bem, da decência, da integridade, a chama de Avraham, Yitschac e Yaacov, numa casa de mentiras que tinha a chutspá de negar que mães foram mortas enquanto seguravam seus bebês.O Rebe sentiu a força daqueles momentos sagrados e ajudou Netanyahu a encontrar dentro de si mesmo a chama da Torá para que pudesse enfrentar um mundo hostil que condena as vítimas e glorifica os monstros sedentos de sangue.Que ele – e cada um de nós – tenhamos a força para continuar acendendo a chama da verdade em meio às mentiras que nos cercam.Que possamos todos juntos dançarmos em breve em Simcha Torá com orgulho e alegria.
Chag Sameach!

10/02/2009

Reb Dovid e o seu Etrog

Um dia o grande fundador do movimento chassídico, Baal Shem Tov, estava sentado para uma refeição de Rosh Chodesh( começo do mês) com seus discípulos e demonstrava uma expressão bastante séria. Seus discípulos tentavam, sem sucesso, melhorar seu humor. Então, um certo morador da vila, Reb Dovid, entrou. Imediatamente, o Baal Shem Tov estava cheio de alegria, tratando-o calorosamente, dando-o um lugar à mesa e um pedaço de pão. Os discípulos ficaram perplexos. Como pode um judeu tão simples conseguir o que eles não conseguiram?!? Quando Reb Dovid foi embora, o Baal Shem Tov respondeu: " Este senhor trabalha muito duro para cada centavo que ganha. Durante todo o ano, ele economiza para comprar um etrog(uma das quatro espécies que são "balançadas") em Sucot, até que ele chegue à quantia necessária e vá à cidade para comprar um da mais alta qualidade. Isto traz grande alegria a ele.
Dado que ele é pobre e sua mulher é amargurada, incomoda muito a ela que ele não se preocupe mais com as condições de sua casa do que em comprar um lindo etrog. Então, na sua amargura, a mulher destruiu o etrog.
Além do dinheiro que ele gastou, houve muitos obstáculos para trazê-lo: cruzar áreas alagadas, más estradas e etc. Tudo isso aumentou ainda mais o esforço do Reb Dovid. Mesmo assim, quando ele viu o que sua mulher fez, ele não ficou zangado. Ele disse: Parece que eu não mereço ter um etrog como este. Na verdade, um judeu simples como eu, merece um etrog de tamanha qualidade?
"Desde os tempos de Avraham e da Akeida( sacrifício não consumado do seu filhoYitzchak) , concluiu o Baal Shem Tov, não houve um teste tão grande de caráter! Por isso o tratei tão bem."

Que neste ano possamos ter um pouco mais do caráter e cuidado com as mitzvot do Reb Dovid!
Chag Sameach!

9/24/2009

A Teshuvá em Poucas Linhas

Estes dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur são chamados de Yamim Noraim( dias temíveis), afinal, são os dias em que D-us está selando o destino de cada um. No entanto, a teshuvá(retorno; arrependimento) que fazemos nestes dias e, especialmente, em Yom Kipur tem um poder incrível, deixando-nos mais confiantes para que sejamos selados para um ótimo ano.
Teshuvá(retorno) , basicamente, é o arrependimento pela transgressão cometida e a resolução sincera de não repetir o erro. Portanto, algo acessível a todos.
A chassidut ensina que a teshuvá é ainda mais elevada que as mitzvot(mandamentos) da Torá. As mitzvot trazem para o mundo a luz espiritual proveniente do nome de Yud-Kei-Vav-Kei que está relacionado a transcendência de D-us . Por outro lado, a teshuvá traz a luz espiritual proveniente da própria essência de D-us à qual nem o Seu Nome pode ser comparado.
Por isso, nossos sábios ensinam que uma teshuvá sincera não é capaz apenas de fazer nossos pecados serem perdoados, mas também os próprios pecados são transformados em méritos! Isto se refere a teshuvá em qualquer momento do ano, aplicando-se mais ainda ao momento mais propício do ano para nos voltarmos a D-us, o Yom Kipur.
Com votos de que nós aproveitemos esta oportunidade tão importante, desejo a você uma chatimá tová!
Para ler mais sobre a teshuvá em Yom Kipur recomendo o link abaixo com um resumo de uma Sichá do Rebe de Lubavitch: http://pausapratora.wordpress.com/. Aliás, este é um ótimo link com várias sínteses de Sichot do Rebe.

9/16/2009

Shaná Tová!

No livro Hayom Yom(livro escrito pelo Rebe de Lubavitch que traz pensamentos diários sobre sobre filosofia e costumes chassídicos) de hoje está escrito que D-us transforma o espiritual em material, enquanto o povo judeu transforma o material em espiritual. No dia de Rosh Hashaná, D-us criou o homem a partir do espiritual com o objetivo de que ele correspondesse com o seu trabalho de tornar o material mais espiritual.

Que D-us nos ajude para que no próximo ano possamos cada vez mais cumprir com o objetivo de nossa criação e, com isso, possamos receber Dele todas as bênçãos que queremos!

Shaná Tová Umetuká e ktivá vechatimá tová!

8/26/2009

Meu Depoimento no site do Chabad

Escrevi um texto sobre o que me levou a ficar mais observante no site do chabad. Este é o link: http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/retorno_introvertido/index.htm

8/20/2009

Uma visão mais profunda da tzedaká

Existem maneiras diferentes de se categorizar as mitzvot da Torá. Uma delas é dividindo-as entre as que podemos fazer com o pensamento como meditar sobre a Unicidade Divina, com a fala como o estudo da Torá e com as ações como a tzedaká(caridade). No livro Tanya(1), é explicado o motivo de esta ser a principal da última categoria. Indo ainda mais fundo, o livro explica que esta mitzvá é a mais importante para o nosso tempo mesmo se comparada com o estudo da Torá sobre o qual foi dito: "o estudo da Torá é comparável a todo o resto".

Antes de aprofundarmos nosso conhecimento sobre a tzedaká temos que ter em mente que as mitzvot de ação têm como objetivo geral refinar nossa alma animal e, com isso, elevar todo o mundo( ver artigo "A Importância Espiritual das Mitzvot").

Esta mitzvá é a mais importante entre aquelas ligadas a ação porque ela é a única que demanda que usemos todas as forças da alma animal para cumpri-la, refinando-a inteiramente. Ao trabalharmos, temos que usar todas as nossas forças para que consigamos algo, mesmo que seja um trabalho mais intelectual. Usamos nossa pernas para ir até lá, nossas mãos para digitar no computador ou similar, e nossas mentes. Diferente do tefilin, por exemplo, para o qual precisamos apenas dos nossos braços. Em geral, do que ganhamos, pelo menos 10% deve ir para tzedaká.

Mesmo uma pessoa que é sustentada por outra, ao dar tzedaká, está fazendo uma grande mitzvá. Isso porque ela está tirando daquilo que seria para ela comer e vestir-se, ou seja, está abrindo mão de algo para ela como um todo.

No entanto, o Alter Rebe explica que ela não é só a mais importante entre as ações, mas entre todas para a nossa época. É sabido que estamos próximos a vinda de Mashiach e que esta geração anterior a redenção é a de nível espiritual mais baixo, por isso ela é comparada ao nosso mundo material que também é o mais baixo. O lugar em que D-us está oculto a ponto de parecer que Ele não está aqui. Sendo assim, dar tzedaká à pessoa que não tem nada é comparável a revelação de D-us neste mundo que também não tem nada divino, ao menos de foma revelada.

Por isso, a famosa expressão: "tzedaká aproxima a redenção." Ao darmos tzedaká, além de elevarmos o mundo, estamos fazendo algo semelhante à revelação de D-us neste mundo tão baixo e de ocultamento.

Certamente, não há maior e mais desejável revelação divina do que a redenção final com a chegada de Mashiach, que seja em nossos dias!

Notas:
(1) É o monumental livro base da Chassidut Chabad. Foi escrito pelo primeiro Rebe de Lubavitch, o Alter Rebe, para seus chassidim. É baseado, especialmente, nos ensinamentos do Zohar, do grande cabalista Arizal, dos mestres chassídicos Magid de Mezritch e Baal Shem Tov. O objetivo principal do livro de acordo com o autor é mostrar como é "Perto de você na sua fala , no seu coração, fazê-lo", ou seja, como está ao alcance de qualquer pessoa esforçada, cumprir a Torá com entusiasmo e de forma plena. Ao longo da obra, vários conceitos cabalísticos são elucidados. Recomendo fortemente não apenas a leitura, mas o estudo sistemático! Na verdade, é até melhor aprender com um professor. Para isso procure o Beit Chabad mais próximo para ter aulas de Tanya. Se quiser comprar o livro pela internet com tradução e explicações em português vá para este link:
http://www.sefer.com.br/produtos.aspxsubid=4&subn=Chassidismo&ctgn=Livraria&ctg=4

O Rei entre nós

Hoje, é Rosh Chodesh Elul( primeiro dia do mês deElul). O próximo mês é Tishrei e o seu Rosh Chodesh é mais conhecido por Roh Hashaná( primeiro dia do ano). Neste mês, nos preparamos para momentos de suma importância no calendário judaico como o própio Rosh Hashaná, o Yom Kipur e Sucot.
A chassidut explica que neste mês há uma maior revelação dos 13 Atributos de Misericórdia de D-us. Para esclarecer o que isso significa, a chassidut conta uma parábola: O rei saiu de seu palá- cio com roupas comuns e vai para o campo, estando pronto para se aproximar de todo aquele que deseje. Depois, o rei volta ao seu palácio, coloca suas vestimentas reais e, então, já não é mais qualquer um que pode ir até ele.
No mês de Elul, o Rei está no campo, então, é mais fácil nos voltarmos a Ele agora do que deixarmos para fazer isso em Rosh Hashaná e Yom Kipur em que o Rei está de volta ao palácio. Não é por acaso que Rosh Chodesh Elul foi quando Moshé Rabênu subiu ao Monte Sinai pela segunda vez para receber as segundas tábuas, voltando-se junto com todo o povo a D-us , após o grande pecado do bezerro de ouro.
Isto implica que este é o momento mais auspicioso para fazermos teshuvá(retorno), enquanto que em Rosh Hashaná temos que assumir o jugo, o reinado Dele sobre nós.
Espero que você aproveite desde já este momento tão especial para se unir cada vez mais com D-us fazendo mais uma mitzvá, pois como sempre dizia o Rebe, "a ação é o principal"!

8/11/2009

O Grande Deserto

Estamos lendo o último livro da Torá, o Devarim. Este também é chamado de Mishne Torá ou Resumo da Torá. Moshé Rabênu repassa toda a Torá e adverte os judeus sobre o comprometimento com os mandamento recebidos no Monte Sinai.
Na parashá(porção semanal da Torá) da semana passada, Eikev, enquanto falava sobre o cuidado que os judeus deviam ter de não se tornarem arrogantes com toda a abundância que teriam na Terra Prometida e, com isso, não esquecerem que D-us é quem garante toda a riqueza e satisfação, Moshé Rabênu nos lembra como D-us nos ajudou no deserto: "Aquele que guiou vocês por esse grande e temível deserto, onde havia cobras, serpentes e escorpiões e sede, mas não água."(Deuteronomio 8:15)
Sabemos que cada letra da Torá tem algo a nos ensinar, mais ainda todo um pasuk(verso).
O Rebe revela lições deste pasuk muito relevantes para todos nós:
" O deserto é comparável ao exílio atual, que precede a redenção final. O deserto espiritual tem as seguintes propriedades:
"Grande" - O declínio espiritual da pessoa começa quando ela pensa que o deserto é grande, ou seja, que o mundo secular em volta dela é grande e poderoso.
"Temível deserto" - Isto o leva pensar que o mundo secular é tão poderoso que ele não deixa lugar para valores judaicos.
"Onde havia cobras" - O veneno quente da cobra representa o calor e o entusiasmo com coisas materiais.
"Serpentes" - Isto leva a um estado em que o entusiasmo da pessoa por Torá e mitzvot é totalmente "queimado". Isto é aludido pelo termo para serpente em hebraico "saraf" que significa literalmente queimar.
"Escorpiões" - O veneno frio do escorpião alude ao consequnte estado de total frieza e apatia para questões espirituais.
"E sede, mas não água" - A pessoa está tão removida que mesmo quando a sua alma está sedenta por judaísmo, ela nem compreende o que ela precisa.
Para eliminar todos esses sintomas temos que enfrentar a causa inicial: um judeu deve ter orgulho da grandeza da Torá, e não temer a aparente grandiosidade dos seus arredores seculares."

Baseado em Likutei Sichos vol2, extraído e tradzido do Chumash The Gutnik Edition

Aqui, o Rebe fala sobre o primeiro passo para evitar uma descida espiritual: ter orgulho de ser judeu e da Torá. Sem dúvida isto é fundamental. No entanto, infelizmente, sabemos que muitos judeus estão exatamente no estágio final da descida descrita: eles nem sabem que o que estão procurando é justamente o que já é deles: a Torá.
Assim, creio que para iniciar uma subida, também seja necessário saber do que estamos realmente sentindo falta e, depois, ir atrás. Caro leitor, se você está em busca de algo e não sabe muito bem o que é, esteja certo que a sua alma está sedenta por beber as "águas da Torá". Então, aja! Procure o Beit Chabad mais próximo, vá a uma aula de Torá e acrescente uma mitzvá ao seu dia-dia!

7/27/2009

Tishá b'Av

Tishá b'Av( 9 de Av) começa nesta quarta-feira à noite. É um dia triste para o povo judeu, por isso o luto. No entanto, como explica a chassidut, toda descida de nível espiritual ocorre apenas para que haja uma subida a um nível ainda maior que o estágio anterior. Neste caso, a destruição do nosso Beit Hamikdash(Templo Sagrado), que causou enorme prejuizo espiritual ao povo judeu, só se deu para que depois pudéssemos ter uma subida ainda maior com a construção do terceiro e eterno Beit Hamikdash com a chegada de Mashiach e a completa redenção, que seja em nossos dias!

Saiba mais sobre os motivos do luto para o povo judeu neste dia, lendo texto retirado do site http://www.chabad.org.br/:

Os nove dias: 22 a 30 de julho, 2009
"Quando começa o mês de Av, reduzimos nosso júbilo..." (Talmud, Tratado Ta'anit 26). Começando em 1º de Av, usualmente nos abstemos de diversas atividades que estão associadas à alegria.9 de Av: (29, véspera) 30 de julho, 2009
O dia 9 de Av, Tishá BeAv, celebra uma lista de catástrofes tão graves que é claramente um dia especialmente amaldiçoado por D'us. O Primeiro Templo foi destruído neste dia. Cinco séculos mais tarde, conforme os romanos se aproximavam do Segundo Templo, prontos para incendiá-lo, os judeus ficaram chocados ao perceber que o Segundo Templo foi destruído no mesmo dia que o Primeiro.
Quando os judeus se rebelaram contra o governo romano, acreditavam que seu líder, Shimon bar Kochba, preencheria suas ânsias messiânicas. Mas suas esperanças foram cruelmente destroçadas em 135 EC, quando os judeus rebeldes foram brutalmente esquartejados na batalha final em Betar. A data do massacre? Nove de Av, é claro!
Os judeus foram expulsos da Inglaterra em 1290 EC em, você já sabe, Tishá BeAv. Em 1492, a Idade de Ouro da Espanha terminou, quando a Rainha Isabel e seu marido Fernando ordenaram que os judeus fossem banidos do país. O decreto de expulsão foi assinado em 31 de março de 1492, e os judeus tiveram exatamente três meses para colocar seus negócios em ordem e deixar o país. A data hebraica na qual nenhum judeu mais teve permissão de permanecer no país onde tinha desfrutado de receptividade e prosperidade? A esta altura, você já sabe que é 9 de Av.
Pronto para mais? A Segunda Guerra e o Holocausto, concluem os historiadores, foi na verdade a conclusão arrastada da Primeira Guerra, que começou em 1914. E sim, a Primeira Guerra Mundial começou, no calendário hebraico, a 9 de Av - Tishá BeAv.
O que você conclui disso tudo? Os judeus vêem estes fatos como outra confirmação da convicção profundamente enraizada de que a História não ocorre por acaso; os acontecimentos - mesmo os terríveis - são parte de um plano Divino, e têm um significado espiritual. A mensagem do tempo é que há um propósito racional, muito embora não possamos entendê-lo.

Saiba também sobre as Leis deste dia:

Há cinco coisas proibidas em Nove de Av: comer e beber, lavar-se, untar-se com óleo, vestir sapatos de couro e coabitar.
Não há diferença entre a noite (da véspera) e o dia de Nove de Av. Pode-se comer somente antes do pôr-do-sol na véspera de Nove de Av; o crepúsculo é considerado como noite, e alimentar-se é proibido.
Todos devem jejuar em Nove de Av, incluindo mulheres grávidas e mães em fase de amamentação. Quem estiver doente, porém, pode comer, mesmo se sua doença não lhe ameaça a vida. Entretanto, uma pessoa doente deve abster-se de comer iguarias e deveria ingerir somente o que for absolutamente necessário para seu bem-estar físico.
Se Nove de Av cai num domingo e uma pessoa doente precisa comer durante o jejum, deve recitar Havdalá antes de comer [pois Havdalá não é recitado na noite anterior por causa de Nove de Av].
A pessoa não pode enxagüar a boca em Nove de Av, até o fim do jejum.
Lavar-se por prazer é proibido, tanto em água quente quanto fria. Entretanto, se as mãos estão sujas, pode lavá-las. Pode também lavar as mãos após levantar-se pela manhã como faz todos os dias, bem como após usar o banheiro. Entretanto, não pode lavar a mão inteira, mas apenas os dedos. Com os dedos ainda úmidos, pode lavar os olhos com eles. Se os olhos estão sujos, pode enxagüá-los como faz normalmente.
Se a pessoa estiver cozinhando e preparando comida, pode lavar os alimentos, pois a intenção não é lavar as mãos.
A proibição de calçar sapatos aplica-se àqueles de couro. Sapatos feitos de lona ou borracha podem ser usados. Porém, se são cobertos de couro ou se têm solas de couro, não podem ser usados. Se alguém está caminhando em local repleto de espinhos ou numa área povoada de não-judeus [onde sua aparência poderia ser ridicularizada], pode calçar sapatos normais nestes locais.
É permitido banhar um bebê e aplicar óleo em sua pele, da maneira que normalmente é feito.
Todas as proibições acima mencionadas se aplicam a partir do pôr-do-sol na véspera de Nove de Av até o final do jejum.
Como se explicou acima, o estudo de Torá é proibido em Nove de Av porque o estudo de Torá traz alegria à pessoa. Entretanto, pode-se estudar o terceiro capítulo do tratado Mo'ed Catan, que fala das leis de luto e excomunhão. Pode-se também estudar o Midrash do Livro de Echá; Echá com seus comentários, e Iyov com seus comentários, pois estas obras despertam um sentimento de tristeza no leitor. Pode-se também estudar os capítulos de admoestação e calamidades registradas em Yirmiyahu; entretanto, deve-se ter o cuidado de pular aqueles versículos que falam de consolação. A pessoa pode também estudar os trechos do Talmud sobre a Destruição, registrada no Tratado Guitin.
Não se deve cumprimentar um amigo e perguntar como vai em Nove de Av, e não se deve nem dizer "bom dia." Se alguém for cumprimentado, porém, pode responder para não ofender os sentimentos, mas em um tom de voz baixo. É proibido também enviar presentes em Nove de Av.
Em Nove de Av, é costume abster-se de fazer qualquer trabalho que deva ser feito em um período longo de tempo, pois empenhar-se nesse tipo de atividade distrai a pessoa de sentir tristeza. Deve evitar este tipo de serviço na noite da véspera de Nove de Av, e até o meio-dia de Nove de Av. Após meio-dia, este tipo de trabalho não é habitualmente proibido, mas mesmo assim é recomendável que a pessoa seja severa consigo mesma e evite este trabalho até que termine o jejum.
Da noite de Nove de Av até meio-dia, deve-se sentar no chão ou sobre um banquinho com altura não maior que três larguras de mão.
Deve-se evitar andar pelas ruas ou ir ao mercado, para não conversar à toa e assim distrair-se do sentimento de luto. Deve-se certamente evitar atividades que possam levar à leviandade.
Alguns seguem o costume de não dormir em uma cama em Nove de Av; em vez disso, dormem em colchões colocados no chão. Em qualquer dos casos, a pessoa deve variar seus hábitos de dormir; por exemplo, se costuma dormir com dois travesseiros, deve usar apenas um. Algumas pessoas colocam uma pedra sob o travesseiro ou colchão, como forma de relembrar a Destruição do Templo.
É costume iniciar somente após meio-dia o preparo dos alimentos que serão comidos quando terminar o jejum.
Não se deve cheirar perfumes ou especiarias em Nove de Av, nem fumar em público.
Não se deve vestir roupas bonitas em Nove de Av, mesmo que a roupa não seja nova.
Muitos têm o costume de lavar o chão e limpar a casa após meio-dia em Nove de Av, em antecipação da Redenção que aguardamos. Além disso, é uma tradição que o Mashiach nascerá em Nove de Av.
Costuma-se dizer que a pessoa que come ou bebe em Nove de Av sem ter de fazê-lo por razões de saúde não merecerá ver o júbilo de Jerusalém. E quem prantear sobre Jerusalém merecerá ver sua felicidade, como promete o versículo (Yeshayahu 66:10): "Rejubile-se grandemente com ela, todos que por ela pranteiam.

7/23/2009

A importância espiritual das mitzvot

Muitas pessoas se perguntam por que um D-us tão grande e poderoso se importa com coisas tão pequenas como colocar tefilin(filactérios que devem ser colocados por todo judeu) ou dar tzedaká(caridade). Essa é uma pergunta que tem como base uma outra mais geral: D-us se importa com a ação do homem ou ele é o Criador transcendente que não se envolve com os assuntos humanos?
Claro que o judaísmo responde que D-us se importa muito com o comportamento e necessidades do homem. Mais do que isso, o mundo foi criado para o homem como fica claro no Bereshit(Gênesis).
No entanto, poderíamos pensar que Ele se preocupa com grandes questões e as pequenas Ele deixa a nosso cargo. Mais uma vez, o judaísmo ensina que Ele se importa com cada um individualmente, afinal, cada pessoa é feita à imagem Dele.
Ainda assim, isso não explica o motivo de tanto detalhe na Lei Judaica. Afinal, em termos espirituais, por que as mitzvot são tão importantes?
A resposta mais óbvia para a pergunta e nem por isso menos relevante é que elas são a Vontade de D-us. E não pode haver nada mais importante do que cumprir minuciosamente a Vontade do Criador do universo.
No entanto, podemos saber mais. A chassidut(1) explica o que ocorre espiritualmente ao cumprirmos uma mitzvá:
1- Um dos objetivos dos mandamentos de uma forma geral é refinar as pessoas. A chassidut explica que temos uma alma divina e uma alma animal. A primeira vem para este mundo para refinar a segunda. Isto é feito, especialmente, com o cumprimento das mitzvot.
2- Não apenas nos refinamos, mas também elevamos o mundo. Por exemplo, ao comermos um pedaço de carne kasher e depois usarmos a energia da carne para uma mitzvá estamos elevando aquele animal que comemos.
3- Ao cumprirmos uma mitzvá trazemos uma "luz" divina para o mundo. Levamos mais espiritualidade para o mundo.
4- Ao cumprirmos um mandamento, nos unimos a D-us especialmente. Esta união se dá da forma mais profunda ao estudarmos Torá.
5-Os itens acima contribuem para trazer o bem supremo, a realização da intenção de D-us ao criar o mundo: que seja feita uma moradia para Ele neste mundo("dirab'tachtonim"). Isto ocorrerá com a chegada de Mashiach e a redenção final, que seja em nossos dias.
A chassidut explica também por que todos os detalhes da Lei Judaica são importantes:
1- As mitzvot são tão especiais que mesmo a conexão que temos com D-us no Gan Éden(paraíso) não é comparável ao que conseguimos com o cumprimento das mitzvot. No Gan Éden, apenas nos conectamos com o Nome Dele, ou seja, um "raio" proveniente Dele. No entanto, as mitzvot nos conectam diretamente com a Sua Essência.
2 - O que fazemos neste mundo tem uma influência totalmente desproporcional nos mundos espirituais. Uma simples mitzvá ou até um simples detalhe relacionado a ela causa "elevação dos mundos espirituais" como é trazido no livro Tanya(2). Logo, uma moedinha que damos para tzedaká ou uma letrinha apagada no tefilin podem fazer toda a diferença!
Depois de tudo isso enumerado, temos que voltar à resposta inicial: Não há nada mais importante do que a Vontade de D-us, logo, não há nada mais importante do que o cumprimento das Suas mitzvot!

Notas:
(1) Tradicionalmente, chassid significa um homem pio, temente a D-us, faz ainda mais do que manda a Lei. Atualmente, esta palavra se refere também a um judeu ortodoxo seguidor dos ensinamentos do Baal Shem Tov e/ou de um de seus discípulos. O Baal Shem tov é o grande fundador da chassidut que, basicamente, é a exposição da cabalá de uma maneira mais sistemática e mais voltada para o serviço a D-us.
(2) É o monumental livro base da Chassidut Chabad. Foi escrito pelo primeiro Rebe de Lubavitch, o Alter Rebe, para seus chassidim. É baseado, especialmente, nos ensinamentos do Zohar, do grande cabalista Arizal, dos mestres chassídicos Magid de Mezritch e Baal Shem Tov. O objetivo principal do livro de acordo com o autor é mostrar como é "Perto de você na sua fala , no seu coração, fazê-lo", ou seja, como está ao alcance de qualquer pessoa esforçada, cumprir a Torá com entusiasmo e de forma plena. Ao longo da obra, vários conceitos cabalísticos são elucidados. Recomendo fortemente não apenas a leitura, mas o estudo sistemático! Na verdade, é até melhor aprender com um professor. Para isso procure o Beit Chabad mais próximo para ter aulas de Tanya. Se quiser comprar o livro pela internet com tradução e explicações em português vá para este link:
http://www.sefer.com.br/produtos.aspxsubid=4&subn=Chassidismo&ctgn=Livraria&ctg=4

7/22/2009

Um Belo Exemplo

D-us no meu "corner"

Dado que sou o numero 1 do ranking mundial de boxe júnior peso meio-médio, minha próxima luta será pelo título da categoria contra o vencedor da luta entre Andrea Kotelnik e Amir Khan. As pessoas pensam que lutas de boxe dependem apenas de força física. No entanto, minha jornada ensinou-me que minha força principal vem da espiritualidade. Ser um campeão de boxe é o meu sonho desde que sou um garoto. Depois de sair da Ucrânia para ir morar no Brooklyn(NY) em 1991, a experiência de isolamento de um imigrante me fez perseguir uma academia de boxe qundo eu tinha apenas 13 anos. Enquanto a maioria dos meninos judeus americanos estavam estudando para o seu bar-mitzvá, eu estava sonhando em ser um lutador de boxe. Quando tinha 14 anos, minha mãe teve câncer. Durante uma visita ao hospital, encontrei um chasid(1) que estava visitando sua esposa. Assim, formou-se uma amizade e ele me colocou em contato com o rabino Zalman Liberow do Chabad de Flatbush. O rabino Liberow me encorajou a ,gradualmente, observar mais rituais do judaísmo e meu amor pelas tradições dos meus ancestrais cresceu. Comecei a rezar todos os dias e a comer comida kasher. Enquanto isso, minha carreira no boxe progredia. Quando fiz 17 anos era o momento de competir no torneio de boxe amador "NYC Golden Gloves". Eu consegui chegar à final que era na sexta-feira à noite. Nesta época, eu já tinha aprendido que sexta à noite era Shabat e me senti culpado por lutar, mas decidi fazê-lo de qualquer maneira. Estava animado com a oportunidade de vencer o torneio e poder receber uma proposta lucrativa posteriormente. Porém, não era para acontecer e perdi. Pensei em parar, começar um trabalho comum e esquecer meu sonho de ser um campeão mundial. Poucos meses depois do "Golden Gloves", fui escolhido para lutar o "U.S Amateur Championships" no Gulport, Mississipi. Uma tentativa mais, pensei. Treinei diligentemente e fui ao rabino pedir um bênção para a vitória. O rabino Liberow me disse que eu podia ter um impacto como um bom exemplo, porém lembrou-me que eu deveria observar o Shabat. Decidi me comprometer a isso, dando o próximo passo na minha observância, não lutando no Shabat. Este foi um divisor de águas em minha vida. Trabalhei duro e coloquei minha fé nas mãos de D-us, decidi que Ele governa o mundo e meu testemunho disso como um judeu era observar o Shabat. Em Mississipi, fui informado que as finais eram no Shabat, e que seria desqualificado se não lutasse. Uma vez que, eu não tinha grandes chances de chegar lá, não me preocupei. Todavia, após ganhar duas lutas, cheguei às finais. Estava totalmente preparado para ser desqualificado, porém os organizadores do evento decidiram mudar a data da luta para que eu pudesse participar. Desta vez, venci o torneio e passei a ser o campeão americano. Também voltei ao "Golden Gloves", cheguei às finais(que foram na quinta dessa vez) e venci.
Logo depois, me tornei um profissional e tenho um recorde de 30-0( 30 vitórias e nenhuma derrota). Olhando para trás, após 10 anos, reconheço que o direcionamento que recebi do rabino me deu a principal força que carrego comigo tanto dentro quanto fora dos ringues. Agora, dedico minha vida não apenas a vencer lutas de boxe, mas também a ensinar crianças o boxe não competitivo de forma que elas ganhem preparo físico e auto-confiança. O boxe é tanto um jogo mental quanto físico. Minha história de imigrante, a doença da minha mãe e minha dedicação ao Shabat são todas partes da minha força e uma razão fundamental para meu sucesso como boxeador. Estou ansioso para minha luta pelo título, a qual eu sei que não será numa sexta-feira à noite. Esta luta eu já ganhei!

Dmitriy Salita, um judeu ortodoxo e o número 1 do ranking do peso meio médio

Esta história nos ensina muito. Primeiro, que o o judaísmo não é apenas para rabinos e religiosos, mas para todos os judeus seja qual for sua profissão ou escolaridade. Segundo, que muitas vezes nos afastamos do judaísmo por pensar que a sua observância não é compatível com nosso modo de vida e que nos prejudicaria. Esta história mostra o contrário: a Torá não apenas é compatível até com a vida de um lutador de boxe, mas Ela o ajuda. Então, certamente, a sua observância será boa para nós!

Notas:(1) Tradicionalmente, chassid significa um homem pio, temente a D-us, faz ainda mais do que manda a Lei. Atualmente, esta palavra se refere também a um judeu ortodoxo seguidor dos ensinamentos do Baal Shem Tov e/ou de um de seus discípulos. O Baal Shem tov é o grande fundador da chassidut que, basicamente, é a exposição da cabalá de uma maneira mais sistemática e mais voltada para o serviço a D-us.

7/15/2009

O Nome da Parashá(Matot/Tribos)

Apesar de ainda não ter respondido a todas as questões que coloquei na primeira postagem, sinto que está na hora de partir para uma nova fase, começando a postar mais sobre a Torá e a Chassidut propriamente ditas. Ao mesmo tempo e aos poucos vou terminando de respondê-las...
Então começo com um pequeno resumo de uma Sichá(discurso) do Rebe sobre a porção semanal(Parashá) da Torá que é lida neste Shabat.

No entanto, antes disso é preciso lembrar que estamos num período de luto para o povo judeu. Desde o dia 17 de Tammuz(9 de julho este ano) até o dia 9 de Av(30 de julho este ano) temos Leis especiais como não poder fazer casamentos ou ouvir música. Este luto começa no dia 17 de Tammuz devido a queda da muralha de Jerusalém que precedeu a destruição do Templo Sagrado em 9 de Av. Desde então, sofremos por estarmos no Galut(exílio) e não termos mais o nosso Templo Sagrado(Beit Hamikdash). É interessante notar que, por Providência Divina, nestes mesmos dias ocorreram outras desgraças para o povo judeu. Por exemplo, no dia 17 de Tammuz, Moshe quebrou as primeiras Tábuas da Lei devido ao pecado do bezerro de ouro, enquanto no dia 9 de Av os judeus foram proibidos de entrar em Israel devido ao pecado dos espiões.

Bem, agora podemos começar o resumo da Sichá:

"A Parashá Matot é sempre lida durante este período de três semanas de luto relacionado a destruição do Templo Sagrado, que levou o povo judeu a um exílio físico e espiritual do qual ele ainda não se recuperou. Portanto, não é surpreendente que o nome desta Parashá contenha uma mensagem de inspiração que possa nos ajudar a vencer as adversidades do exílio. A Escritura usa dois termos para se referir a tribos de Israel: a) shevatim b) matot. A diferença entre eles é que "matot" também se refere a galhos que cairam da árvore, e já endureceram formando um bastão. Por outro lado, "shevatim" se refere a galhos que ainda estão conectados ao tronco e por isso são mais macios e flexíveis.
A filosofia chassídica ensina que o "galho" e o "bastão" aludem ao desenvolvimento da alma à medida em que ela passa de um mundo espiritual ao mundo físico. Em um mundo espiritual a alma está conectada com D-us de forma consciente como o galho que permanece conectado com o tronco. No entanto, antes de embarcar em sua missão, a alma está imatura. Ela nunca enfrentou um obstáculo em sua relação com D-us e, por conseguinte, nunca teve o prazer da conexão adicional que é trazida a uma relação pela superação de obstáculos. Dessa maneira, as "reservas ocultas" de poderes presentes na alma para vencer tais desafios ficam dormentes.
Todavia, quando a alma é colocada no mundo físico, num corpo físico e em tempos de exílio, tudo muda. Como um galho que está desconectado, a alma perde o seu envolvimento natural com o Criador e se encontra em um mundo que é antagônico à santidade e à verdade. Porém, nós temos a promessa que, se nos esforçarmos adequadamente, este galho mais flexível e macio irá logo tornar-se um bastão firme e rígido, que não se curva em sua dedicação a D-us.
Parashá Matos, então, nos ensina que D-us nos deu a habilidade de viver de acordo com as Leis da Torá sob quaisquer circunstâncias. É apenas uma questão de vontade e determinação da parte do judeu, já que ele tem toda a capacidade de viver de acordo com a Vontade e os Mandamentos de D-us, o Criador e Mestre do universo."

Espero que esta Sichá nos ajude a superar as dificuldades do exílio e a aumentar nosso cumprimento e estudo da Torá, fortalecendo nossa conexão com D-us!

7/03/2009

Libertação do Rebe anterior

Amanhã, 12 de Tamuz, comemoramos a libertação do Rebe anterior.
Em 12 de Tamuz de 1927, o sexto Lubavitcher Rebe, Rabino Yossef Yitzchak Schneersohn, foi oficialmente libertado de sua sentença de exílio em Kastroma, no interior da Rússia. Vinte e sete dias antes, o Rebe fora preso por agentes da GPU e da Yevsketzia (“Seção Judaica” do Partido Comunista) por suas atividades para preservar o Judaísmo em toda a União Soviética, e condenado à morte. Milagrosamente, a pressão internacional levou os soviéticos a comutarem a sentença para exílio e, posteriormente, a libertá-lo por completo. A verdadeira libertação ocorreu a 13 de Tamuz, e os dias 12 e 13 de Tamuz são celebrados como uma “Festa da Libertação” pela comunidade Chabad-Lubavitch e também por todos os judeus, já que a redenção do líder da geração é de grande relevância para todo o povo.

Em homenagem a ele uma breve história que ilustra os grandes testes pelos quais o Rebe passou e também sua grandeza e coragem:

Certa manhã, quando o Lubavitcher Rebe estava cumprindo yahrzeit(aniversário de falecimento) por seu pai, três membros da Yevsektzia irromperam em sua sinagoga, revólveres em punho, para prendê-lo. Calmamente, o Lubavitcher Rebe terminou suas preces e os seguiu.
Enfrentando um conselho de homens armados e determinados, o Lubavitcher Rebe mais uma vez reafirmou que não abriria mão de suas atividades religiosas, quaisquer que fossem as ameaças. Quando um dos agentes apontou-lhe um revólver, dizendo: "Este brinquedinho fez muitos homens mudarem de idéia", o Lubavitcher Rebe replicou calmamente: "Esse brinquedinho pode intimidar somente o tipo de homem que tem muitas paixões e deuses, mas apenas um mundo - este mundo. Como eu tenho apenas um D'us e dois mundos, não estou impressionado pelo seu brinquedinho."

Para saber mais sobre o Rebe Yosef Yitzchak clique aqui: http://www.chabad.org.br/datas/outras_datas/Yud_Bet_Tamuz/index.html. Para ainda mais informações recomendo o livro "A Prince in Prison" da editora Sichos in English.
Acho importante saber também quão cruel era o regime contra o qual o Rebe estava lutando. Até porque, incrível e infelizmente, ainda há pessoas simpáticas a esta ideologia que o originou, o marxismo. Achei na internet o museu virtual do comunismo. Vale a pena passar lá: http://www.globalmuseumoncommunism.org/

6/24/2009

O Rebe: Informe-se e Inspire-se

Nesta noite(guimel Tamuz ou 3 de Tamuz), completam-se quinze anos de falecimento do maior tzadik(justo), sábio e líder do povo judeu em nossa geração: Rabino Menachem Mendel Schneerson ou simplesmente o Rebe.
É inadmissível que não conheçamos a vida, os ideais e o trabalho deste grande homem.
Gosto muito da maneira como o descreveu o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, após uma visita ao Rebe: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."
Para começar a entender os motivos de tanta deferência recomendo fortemente que você leia sobre o Rebe no site do Chabad em português: http://www.chabad.org.br/rebe/index.htmou ou para mais informações vá ao site do Chabad em inglês no link: http://www.chabad.org/generic_cdo/aid/142232/jewish/3-Tammuz.htm.
Certamente, é inspirador!

6/18/2009

A Origem Divina da Torá Oral e da Lei Judaica

" Se a Bíblia é o elemento mais básico do judaísmo, então o Talmud é seu pilar central, estendendo-se desde as suas fundações e sustentando todo o seu edifício"
Rabino Adin Steinsaltz

Voltando a idéia original de responder a questões fundamentais e frequentes sobre o judaísmo, escreverei sobre o oitavo princípio da fé judaica: "Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu". Isto inclui a Torá Escrita ou o Pentateuco e a Torá Oral ou "Mishná" e "Guemará"( esses termos serão explicados ao longo do texto) em que são baseadas a Lei Judaica, a Halachá.
Vou me deter na Torá Oral, uma vez que já discuti a origem divina da Torá Escrita em postagens anteriores. A Torá Oral é constituida basicamente por explicações do conteúdo da Torá Escrita. Por exemplo, só sabemos como devem ser feitos e como amarrar os Tefilin(filactérios que devem ser colocados todos os dias) por causa da Torá Oral, já que no Pentateuco está escrito apenas para colocarmos "totafot" em nossas mãos e entre nossos olhos.
O primeiro conceito fundamental é o de que a Torá Oral também foi revelada a Moshe por D-us. Como sugere o nome, esta parte dos ensinamentos não foram escritos. Eles foram passados de geração em geração de forma oral desde Moshe para Joshua até a geração do Rebe ou Rabino Yehuda HaNasi(1) que compilou a maior parte desse conhecimento na Mishná por perceber que este conhecimento poderia se perder. Até então os Sábios apenas faziam anotações para uso pessoal ou de seus alunos. Depois, Rav Ashi compilou a o Talmud babilônico e RavYochanan compilou o Talmud de Jerusalém.
O Talmud que é a união de Mishná com Guemará, basicamente, registra as discussões dos Sábios sobre a Mishná. Portanto, na verdade, há uma linha direta de transmissão entre os Sábios do Talmud e Moshe que, por sua vez, recebeu a Lei diretamente de D-us. Assim, ao estudar e cumprir a Lei Judaica que é baseada no Talmud, estamos estudando e cumprindo a Vontade de D-us.
No entanto, é preciso esclarecer que tipo de discussão há no Talmud. Como explica o Rambam ou Maimônides(2) no livro Mishneh Torah, o que foi recebido por tradição do Monte Sinai não é objeto de discussão. Basicamente, a discussão gira em torno das derivações legais que se fundamentam na lógica e nos 13 princípios de interpretação(3) da Torá que, por sua vez, foram revelados a Moshé no Monte Sinai. Isso quer dizer que especialmente nas primeiras gerações de Sábios havia pouca discordância e a que havia era circunscrita a formas de interpretação reveladas a Moshé. Depois, como também explica o Rambam houve mais discordância porque o nível de erudição dos Sábios foi progressivamente diminuindo. Então, já não era mais tão óbvio para as gerações posteriores o significado de algumas Mishnayot que foram escritas de forma bastante concisa , sendo necessário discuti-las e estudá-las de maneura mais detalhada. Essas discussões são registradas na Guemará. Com isso, temos o legado do que foi passado a Moshé(Mishná) com suas explicações(Guemará).
Além disso, os Sábios fizeram decretos com o objetivo de prevenir a transgressão conforme o comando na Torá(Leviticus 18:30): " E você deve guardar meus preceitos" que pode ser interpretado como "faça salvaguardas para a Torá"(4). Além desse versículo, em Leviticus(17:11) lemos: "Não se desvie das instruções que eles te darão, nem para a esquerda nem para a direita", conferindo autoridade divina aos decretos dos Sábios.
A partir das discussões talmúdicas e dos decretos, os codificadores da Lei Judaica compilaram as Halachot(Leis), sendo o primeiro código legal o Mishneh Torá que também foi feito por causa da queda de erudição dos indivíduos de gerações posteriores que já não podiam mais chegar a conclusões finais, estudando o Talmud.
Em resumo, tudo o que está na Torá Oral tem origem divina seja porque é tradição diretamente proveniente do Sinai ou uma interpretação baseada nesta tradição ou um decreto fundamentado na Torá Escrita. Assim, compreendemos que a Halachá é a expressão da Vontade Divina e, portanto, segui-la é a melhor maneira de nos conectarmos com D-us!

Adendo - Cronologia da Torá oral:
Séc. IIIe.c. - Redação final da Mishná
Séc. Ve.c - Redação final do Talmud de Jerusalém
Séc. VIe.c - Redação final do Talmud Babilônico
Séc. XIIe.c - Redação do primeiro Código de Lei Judaica(Mishneh Torá pelo Rambam)

(1) Leia um texto interessante sobre Rabi Yehudá HaNassi http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=557&p=2
(2) Rambam ou Moshe ben Maimon(1135-1204) foi um grande rabino, codificador das leis da Torá, filósofo e médico espanhol.
(3) Eles são tão importantes que os estudamos todos os dias antes de rezarmos. Estão registrados em nossos Sidurim(livros de reza). É só procurar logo antes dos "pessukê dezimrá".
(4)Na tradução, não é possível entender como o verso implica isso, mas no original (que aqui será transliterado) é bem mais claro: "Umishmartem et mishmarti", implica "Assú mishmeret lemishmartí".

6/17/2009

Vídeo - Conexão Essencial

Conversando com algumas pessoas ouvi frases como "ser religioso não combina comigo" ou
"acho o judaísmo muito bonito, mas não fui criado de maneira religiosa e estou bem do meu jeito".
Para responder isso prefiro recomendar aqui um breve vídeo do Rebe de Lubavitch(1). Foi gravado no dia 13 de Tamuz que foi o dia em que o Rebe anterior(Yosef Yitzchok Schneersohn 1880-1950) havia sido libertado da prisão na Rússia. Ele tinha sido detido por preservar e difundir o judaísmo local. O Rebe começa falando sobre a libertação miraculosa, depois fala um pouco mais sobre milagres de maneira geral. Então, disserta sobre como cada judeu, independente do modo como foi criado ou ambiente em que vive, tem uma conexão essencial com D-us e com a Torá.
Não vou ficar descrevendo muito porque pode perder a graça... Então, assista e reflita!





(1) Não poderia descrever melhor o Rebe de Lubavitch(1902-1994) do que o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, fez após visitá-lo: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."

6/05/2009

Dalai Lama e o Judaísmo

Esta é uma história emocionante sobre as peripécias de um jovem judeu afastado da fé, que passa por várias crenças, até seu encontro decisivo com o Dalai Lama. Achei interessante postá-la aqui, pois ilustra bem o valor do que temos e a importância de explorarmos a riqueza da nossa Torá.

Encontro com o Dalai Lama por Chayim Walder

Nasci em uma casa totalmente secular. Não só secular, ateísta. Nós não acreditávamos em nada nem fazíamos Yom Kipur. Nem mesmo bar mitsvá me fizeram. Com a idade de quinze ou dezesseis anos, alguma coisa "virou" na minha cabeça. Passei a perambular com pessoas suspeitas. Parecia um louco, com uma careca aqui, outra ali, e uma crista no meio. Causei muito sofrimento e vergonha aos meus pais. Com "sofrimento e vergonha" eu me refiro a não querer entrar no exército. Se há uma religião na qual meus pais acreditavam, seu nome era "Exército de Defesa de Israel". Eu, no entanto, permanecera ateísta nessa religião também. Simplesmente não era para mim. Meus pais submeteram-me a uma lavagem cerebral, mas de nada adiantou. Vaguei bastante por Israel e passei o tempo com uma série de tipos estranhos. Só isso dá uma história per si. Acho que conheço cada trilha e cada caminho da Terra Santa. Decidi viajar para India, procurar um significado para a vida. Onde não estive? Errei por um monte de lugares, conheci pessoalmente uma série de seitas de todos os tipos e espécies. As pessoas não entendem o significado da atração que exercem todas estas seitas, mas quem esteve lá sabe muito bem. O motivo é simples: nesta era permissiva, um rapaz secular normal já passou, até a idade de dezessete ou dezoito anos, por todas as experiências materiais que existem na face da Terra. Há aqueles que procuram ainda mais experiências por algum tempo. Quem sabe ainda exista algo mais, que eles ainda não tenham experimentado. Procuram por um, dois anos mais. Aos 21 anos, todos já passaram por tudo. Muitos destes jovens acreditam que não há mais nada por que aspirar e não entendem para que continuar vivendo. Muitos jovens desistem de viver por não terem gosto pela vida. Somente então chega a compreensão de que, para se ter proveito de algo, é preciso experimentá-lo na medida certa e com moderação. Devido à grande incitação contra aqueles que cumprem a Torá, muitos nem pensam em se aproximar do judaísmo. Eles procuram por outra coisa e acreditam que a encontrarão na Índia. Há algo de fascinante na Índia; é preciso confessar. Lá, as pessoas vivem com uma mentalidade totalmente diferente. Não se apressam a lugar algum, não se preocupam com nada, têm resposta para tudo. E há pessoas simplesmente surpreendentes. Lá encontrei monges que tinham um autocontrole extraordinário: podiam flagelar-se, jejuar, ou não mexer uma mão durante anos. Encontrei até um monge que treinava a respiração. Ele decidira que, se a cobra podia controlar a própria respiração e prende-la durante longos minutos, ele também poderia. Impressionei-me muito com a devoção que eles aplicavam a seus objetivos. Eu não conhecia aquele tipo de coisa. Era filho de uma geração mimada, que nunca se esforçou por nada. Não podia deixar de me admirar pela determinação que demonstravam. Mas afinal, também desisti de sua fé. Disse comigo mesmo: "Qual o objetivo de tudo isso? Concordo que se deve admirar um homem que não levanta sua mão durantes anos, ou de um homem que controla a própria respiração – mas aonde eles chegam com isso?". Quanto mais me admirava de seu poder espiritual, mais os desprezava por desperdiçarem-no com coisas fúteis. Vaguei de um lugar para o outro, até finalmente chegar ao Dalai Lama. O Dalai Lama é tibetano de origem. Mas quando os chineses dominaram o Tibete e mataram milhares de tibetanos, seus fiéis conseguiram faze-lo fugir. Desde então, ele se encontra na Índia. O Dalai Lama é um dos únicos líderes do mundo que não quer saber de violência, ainda que seja por motivo de defesa. Graças a esta fé, o povo tibetano não tem uma terra, é desprezado e humilhado. No entanto, todos o adoram. Este homem também recebeu o prêmio Nobel por sua teimosa devoção à paz. Fiquei maravilhado com a personalidade do Dalai Lama. Ia todo dia, às quatro e meia da manhã, ouvir seu "sermão". Ele é um homem sábio e culto. Não encontrei nele nenhum ponto merecedor de crítica. Entrementes, lá em casa começaram a ficar preocupados comigo. Meu pai escreveu-me que tinha ouvido falar que eu enlouquecera. Respondi, com educação, que me encontrava às vésperas de uma grande decisão. Quando eu estava enviando a carta, dei-me conta de repente que, só pela maneira delicada de escrever, meu pai acharia que seu filho realmente ficara louco. Desde quando eu escrevia com tanta educação?! Naquela mesma noite, falei com um dos homens do Dalai Lama, que prometeu levar-me até ele depois de sua palestra. Realmente entrei em sua sala. Ele era um homem delicado e recebia a todos com simpatia. Curvou-se para mim e ofereceu-me uma cadeira. Falei rapidamente. Disse-lhe que naquela noite havia decidido fazer parte de sua seita, se ele me aceitasse. Ele perguntou-me, em inglês, de onde eu era. Respondi que era de Israel. Ele me perguntou se eu era judeu. Respondi que sim. Então ele reagiu de forma estranha. Sua face iluminada tornou-se surpresa, até um tanto irada. Ele disse que não compreendia minha decisão, e que não me permitiria levá-la adiante. Falou que todas as religiões tentavam imitar o judaísmo.Também disse que tinha certeza de que, lá em Israel, eu andara de olhos fechados. Usou esta expressão mesmo: "de olhos fechados". Ele pediu que eu pegasse um avião, voltasse a Israel e abrisse os olhos. Ainda acrescentou que "ninguém prefere a imitação ao original". Depois despediu-me com um gesto de sua mão. Naquele dia, não consegui pensar em outra coisa: "Eu, um rapaz de Israel, que não sei nada sobre a própria fé, tenho que passar por todas estas peregrinações para ouvir de um líder não judeu que fui cego, e que fui até o fim do mundo para encontrar algo que estava ao meu lado?". Voltei a Israel e ingressei em uma Yeshivá. Vi que o Dalai Lama tinha razão. No judaísmo há intensidade ao longo de toda vida. Existem leis, freios e muitas razões por que viver. Pelo menos 613! Dois anos após ter retornado ao judaísmo, recebi uma resposta para conhecer uma moça e aceite-a. Encontrei-me com uma jovem de minha idade. Como eu, ela também fizera "teshuvá"(retorno) depois de ter procurado resposta em Goa, na Índia. Tínhamos uma linguagem em comum. Descobrimos que nós dois cultiváramos as mesmas preocupações, o mesmo desânimo da vida, a mesma procura por um significado e a mesma volta às raízes. Depois de alguns encontros, comuniquei à shadchanit – a senhora que havia arranjado o nosso encontro – que eu gostara muito daquela jovem, e realmente decidimos ficar noivos. Logo depois do noivado, aproximei-me da shadchanit, dizendo que queria lhe pagar pelo favor. Mas ela não concordou. - Não mereço – disse ela.- Como assim, "não mereço?" – questionei.- Afinal, é costume judaico pagar pelos esforços de quem consegue arranjar um noivado.- Este realmente é um costume judaico – ela retrucou. – Mas eu não fiz o shiduch.- Então quem fez?- Não sei – ela respondeu. – Sua noiva veio até mim com um papelzinho, pedindo-lhe que a indicasse para você. Ela realmente não o conhecia, mas disse que alguém em quem confiava dera-lhe o nome. A festa do noivado terminou e saí para passear com minha noiva. Perguntei-lhe, desconfiado:- Qual é a história deste shiduch? Diga-me quem arranjou tudo, para que eu possa lhe restituir de alguma forma.- Para isso – disse-me-ela – você teria que viajar até a Índia.!- Eu ainda não lhe contei algo sobre a minha passagem pela Índia – ela começou a dizer calmamente. – No final de minhas buscas, acabei chegando até o Dalai Lama. Ele impressionou-me muito e decidi juntar-me à sua seita. No entanto, ele disse que, se eu era judia, não devia trocar o ouro pela prata. Que eu deveria voltar às minhas raízes. Depois, sussurrou algo a um de seus secretários, que desapareceu por alguns minutos, voltando com um pequeno cartão. O Dalai Lama copiou para mim um nome em um papelzinho e disse-me: "Esta é a sua alma gêmea".- Voltei a Israel e entrei em um internato de moças que fizeram teshuvá. O processo foi fácil e rápido. Como se diz, "descobri a luz". No início graças ao conselho do Dalai Lama, e mais tarde, por uma luz muito mais forte que me atraía.- Somente depois de um ano decidi procurá-lo. Dirigi-me a vários casamenteiros com o seu nome, mas eles não o encontraram nas Yeshivot de baalêi teshuvá. Finalmente, uma de minhas amigas começou a procurar entre os chassidim de Breslav, e lá encontrou-o. Desde o nosso primeiro encontro, soube que o Dalai Lama é um casamenteiro profissional. Ele sabia exatamente quem eu estava procurando e escreveu o seu nome no bilhete. Esta é a nossa história. Acho que é uma história muito especial. Estamos casados há três anos e temos dois filhos. Eu estou imerso no estudo da Torá o dia inteiro e minha esposa cuida do nosso lar de forma maravilhosa. Mesmo nossos pais, que são pessoas seculares, intelectuais e abastadas, não podem deixar de se admirar da forma como vivemos e do sucesso do nosso casamento. Eles também sabem da história com o Dalai Lama. Nossos pais até contam orgulhosamente aos seus amigos que o Dalai Lama, em pessoa, arranjou o casamento de seus filhos. A verdade é que, apesar de estarmos muito distantes do nosso passado, nós dois ainda temos no coração um cantinho quente reservado para o Dalai Lama. Ouvimos sobre mais alguns casos de pessoas que foram mandadas de volta por ele para Israel, para que se aproximassem de sua fé. Decididamente, um homem raro em sua espécie. Há alguns meses atrás ele veio em visita a Israel. Queríamos muito ir visitá-lo, por gratidão. Mas minha esposa disse: "Eu acho que ele preferiria que não fôssemos". Encarei-a por alguns momentos e percebi que ela tinha razão. Talvez aquela vontade fosse um artifício de nosso mau instinto, para causar uma confusão entre o sagrado e o profano. Depois que ele se foi, dirigi-me a meu rabino e perguntei-lhe o que era permitido e o que era proibido pensar a respeito do Dalai Lama. Meu mestre respondeu-me que, como ser humano, eu deveria sentir por ele muita gratidão e ver nele um "chassid umot haolam" – um justo entre os povos.Mas mais do que isso, ele mesmo não gostaria que eu sentisse. Pois de outra forma, teria aceito a mim e a minha esposa, e não nos teria mandado de volta às nossas origens. - Lembre-se dele como ser humano – aconselhou-me meu mestre rabino – mas esqueça-o como Dalai Lama. Isso não é bom para você. Voltei para casa absorto em meus pensamentos. Ele tinha razão, meu mestre. Não era só a gratidão que me fazia sentir atraído pelo Dalai Lama. Era ele mesmo, e talvez até mesmo aquilo que ele representa dentro de meu coração. O mau instinto tem seus métodos. Ele é mais forte do que a vontade do Dalai Lama – que eu me afaste dele – e mais forte do que a minha própria vontade. Idolatria não é uma coisa que se apaga tão rápido do coração. Cheguei em casa e, na frente de minha esposa, abri o álbum de fotografias. Peguei a foto do Dalai Lama e, com calma, rasguei-a. Não com ódio, mas com admiração. Ele sabe, melhor do que ninguém, que isto não representa ingratidão, mas sim a maior prova de minha gratidão por ele, cumprindo seu pedido da forma mais plena possível.

Tradução de Guila Koschland

5/30/2009

A questão do bem

Uma vez um grande doador se encontrou com o Rebe de Lubavitch(1) para apresentar um grande projeto para ajudar os judeus americanos. O objetivo era diminuir drasticamente as taxas de assimilação do povo. Após ouvir atentamente sobre um projeto de suma importância para ele, o Rebe perguntou: - O senhor coloca tefilin(filactérios que devem ser colocados no braço e na cabeça todos os dias)? Ele respondeu um pouco atônito: - Não creio que isso tenha relevância dada a dimensão do projeto sobre o qual estamos falando, mas a resposta é não. Então, o Rebe retrucou: - Não se pode salvar o mundo antes de modificar a si mesmo.

Creio que essa idéia é muito relevante para todos nós. Muitas pessoas querem fazer o bem. Vemos graves problemas nos jornais como a pobreza e as guerras sendo todos os dias noticiadas e sentimos que devemos contribuir para tornar o mundo um lugar melhor.


A nossa Torá nos ensina que, em primeiro lugar, devemos ser bons judeus. Isto é devemos cumprir as mitzvot. Tanto as que estão ligadas diretamente ao serviço a D-us como tefilin, kashrut(leis dietéticas), Shabat(o sétimo dia que deve ser dedicado só ao serviço a D-us), quanto as ligadas à nossa relação com o próximo como caridade, honrar os pais e não roubar. Depois, então, se pudermos afetar postivamente muitas pessoas devemos fazê-lo.

É bem razoável que os mandamentos ligados às relações interpessoais tragam o bem. Eles claramente fornecem um embasamento moral para uma sociedade. Quanto aos ligados à nossa relação com D-us, pode-se dizer que um indivíduo que tem sua vida permeada pela consciência do Criador tende a ser mais refinado e, por isso, bom. Além disso a Torá serve como um guia que, se consultado, evita algo muito comum atualmente: pessoas bem intencionadas que ao tentarem fazer o bem, trazem mais mal para o mundo. No entanto, será que é só?

Para entendermos isso, primeiro, devemos analisar o que é o bem na perspectiva da Torá. Em artigos anteriores, vimos que a Torá é divina, portanto, seus mandamentos são a vontade divina. Obviamente, ninguém pode saber melhor o que é o bem do que D-us. Por isso, se cumprimos a vontade Dele estamos fazendo o bem. Logo, D-us nos deu o dom de fazer o bem segundo a perspectiva Dele e, portanto, da forma mais significativa e abrangente que, ao mesmo tempo, está sempre à nossa mão: as mitzvot! Com isso, entendemos que somos capazes de fazer o bem em escala infinita, já que D-us é infinito.

Mas, como o bem se relaciona com o cumprimento dos mandamentos? Este é um tema complexo e muito explorado pela chassidut(exposição sistemática e mais acessível da Cabalá). Aqui, vou colocar de forma bem resumida e recomendo leitura complementar, especialmente do livro Tanya(2) que explica esses conceitos de forma mais apropriada:

1- Um dos objetivos dos mandamentos de uma forma geral é refinar as pessoas. A chassidut explica que temos uma alma divina e uma alma animal. A primeira vem para este mundo para refinar a segunda. Isto é feito, especialmente, com o cumprimento das mitzvot.

2- Não apenas nos refinamos, mas também elevamos o mundo. Por exemplo, ao comermos um pedaço de carne kasher e depois usarmos a energia da carne para uma mitzvá estamos elevando aquele animal que comemos.

3- Ao cumprirmos uma mitzvá trazemos uma "luz" divina para o mundo. Levamos mais espiritualidade para o mundo.

4- Os itens acima contribuem para trazer o bem supremo, a realização da intenção de D-us ao criar o mundo: que seja feita uma moradia para Ele neste mundo("dirab'tachtonim"). Isto ocorrerá com a chegada de Mashiach e a redenção final, que seja em nossos dias!

Sendo assim, a Torá não impede que façamos o bem de acordo com a nossa perspectiva. No entanto, é importante que olhemos para ela como um guia para sabermos se realmente estamos na direção certa. Além disso, e ainda mais importante, ao fazer uma mitzvá estamos fazendo o bem supremo, o bem na perpectiva divina!

Notas:

(1) Não poderia descrever melhor o Rebe de Lubavitch(1902-1994) do que o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, fez após visitá-lo: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."

(2) É o monumental livro base da Chassidut Chabad. Foi escrito pelo primeiro Rebe de Lubavitch, o Alter Rebe, para seus chassidim. É baseado, especialmente, nos ensinamentos do Zohar, do grande cabalista Arizal, dos mestres chassídicos Magid de Mezritch e Baal Shem Tov. O objetivo principal do livro de acordo com o autor é mostrar como é "Perto de você na sua fala , no seu coração, fazê-lo", ou seja, como está ao alcance de qualquer pessoa esforçada, cumprir a Torá com entusiasmo e de forma plena. Ao longo da obra, vários conceitos cabalísticos são elucidados. Recomendo fortemente não apenas a leitura, mas o estudo sistemático! Na verdade, é até melhor aprender com um professor. Para isso procure o Beit Chabad mais próximo para ter aulas de Tanya. Se quiser comprar o livro pela internet com tradução e explicações em português vá para este link: http://www.sefer.com.br/produtos.aspxsubid=4&subn=Chassidismo&ctgn=Livraria&ctg=4


5/25/2009

Shavuot

Shavuot começa nesta quinta-feira à noite, dia 28/05 e termina depois do Shabat.
Comemoramos, nesta data, o recebimento da Torá. É verdade que isso aconteceu há mais de 3300 anos atrás, no entanto a Torá é eterna e sempre será fundamental. Então, esse recebimento deve se atualizar todos os dias, especialmente em Shavuot.
Expressamos isso quando fazemos a brachá que deve ser recitada todos os dias pela manhã antes de estudarmos Torá: Baruch ata HaShem noten haTorá( Bendito seja D-us que dá a Torá). Perceba que o verbo está no presente, enfatizando que nós não apenas a recebemos como continuamos a recebê-la.
Leia um texto interessante sobre os dez mandamentos que encontrei no site http://www.morasha.com.br/ e inspire-se a ir à sua sinagoga ouvi-los nesta nesta sexta!

Shavuot: Os Dez Mandamentos por Rabino Avraham Cohen Shavuot

Shavuot, o sexto dia do mês de Sivan, é o dia mais importante do calendário judaico. Nessa data OCORREU a revelação inédita de D'us perante o povo de Israel e a outorga dos Dez Mandamentos, no Monte Sinai.
Se esse dia histórico não houvesse ocorrido, não teríamos a Torá e seus mandamentos, as festas e preceitos religiosos. Seríamos um povo sem lei e sem propósito, sem princípios e sem a Terra de Israel. Enfim, seríamos pessoas sem rumo na vida.
Os Dez Mandamentos foram entregues em duas tábuas de safira, conhecidas como as Tábuas da Lei. Porém, na realidade, a Torá contém 613 mandamentos, não apenas dez. Por que, então, diz-se que o Povo Judeu recebeu apenas os Dez Mandamentos no Monte Sinai? De acordo com Rav Saadia Gaon, os Dez Mandamentos sintetizam todos os 613 mandamentos do judaísmo. O grande sábio demonstrou em sua obra que todas as instruções contidas na Torá são ramificações dos Dez Mandamentos entregues no Monte Sinai. É, portanto, errôneo acreditar que a religião judaica se limita aos Asseret Hadibrot.
O Baal HaTurim, sábio que fez uso da Guimátria para revelar segredos da Torá, aponta que o texto dos Dez Mandamentos contém 620 letras hebraicas. Esse é o número de todos os mandamentos da Torá, pois além das 613 mitzvot há também 7 leis rabínicas que, como ensina o Talmud, foram ratificadas por D'us. Estas incluem o acendimento de velas em Chanucá, a leitura da Meguilá em Purim, a ablução das mãos antes de comer pão e outras mais.
É também interessante notar que a soma dos algarismos das mitzvot, 613 (6+1+3), equivale ao número 10, que faz alusão aos Dez Mandamentos. O número 620 também é o valor numérico da palavra hebraica Keter, que significa coroa. Isto nos ensina que aquele que cumpre todos os mandamentos da Torá merece uma coroa. No âmbito da Cabalá, Keter é a primeira Sefirá, que representa a Vontade de D'us, que se revela ao homem através dos mandamentos da Torá.
A Disposição dos Dez Mandamentos
Os Dez Mandamentos foram dados por D'us em duas tábuas. Um dos motivos para essa divisão é que há uma relação intrínseca entre os ditames da tábua da direita e os da esquerda. A ordem na qual os Dez Mandamentos foram gravados nas tábuas tem um significado de máxima importância. O primeiro mandamento está relacionado ao sexto, o segundo ao sétimo e assim por diante. Eis a ordem dos mandamentos em cada tábua:
1) Eu sou o Eterno teu D' us que te tirou do Egito 2) Não terás outros deuses e estatuas diante de Mim 3) Não jurarás no nome de D'us em vão 4) Lembrarás e respeitarás o dia do Shabat 5) Honrarás teu pai e tua mãe 6) Não matarás 7) Não cometerás adultério 8) Não roubarás 9) Não darás falso testemunho 10) Não cobiçarás
O primeiro e o sexto mandamentos estão relacionados, pois o fato de acreditarmos em D'us como o Criador do Universo, Aquele que dá a vida, leva-nos a respeitar os outros seres humanos. O homem foi criado à imagem de D'us. Desrespeitar o homem é desrespeitar a D'us. Portanto, devemos ter muito cuidado para não ferir outros seres humanos e, sobretudo, não tirar a vida de outra pessoa.
Há uma ligação clara entre o segundo e o sétimo mandamentos, pois cometer idolatria é, essencialmente, um ato de adultério, isto é, de traição a D'us. No Monte Sinai, houve um casamento, firmou-se uma aliança eterna entre D'us e o Povo Judeu. Quem serve a ídolos, está sendo infiel ao Eterno. O mesmo vale para o casamento. A união de um homem e uma mulher simboliza o relacionamento entre D'us e o Povo Judeu. O judaísmo ensina que a fidelidade é de suprema importância e a violação do casamento é um pecado de extrema gravidade.
O terceiro e o oitavo mandamentos também são semelhantes, pois roubo e juramento em falso são, ambos, atos desonestos, cometidos em busca do proveito próprio ou do lucro indevido. Jurar em falso é tratar a D'us e à Sua palavra e Nome com leviandade; roubar é cometer um ato semelhante, pois, de certa forma, é o mesmo que negar a onisciência de D'us. Além disso, quando há suspeita de roubo, o tribunal pode exigir que um juramento seja proferido, o que pode levar o réu a jurar em falso.
O quarto e o nono mandamentos também estão entrelaçados. O Shabat, o dia de descanso, é, como diz a Torá, um sinal através do qual testemunhamos que o Criador criou o universo físico em seis dias e, no sétimo, cessou de criá-lo. Aquele que conhece a Lei Judaica e sabe da importância do Shabat e, mesmo assim, o desrespeita, está testemunhando em falso contra o Criador.
Há, finalmente, uma relação muito curiosa entre o quinto e o décimo mandamentos. É raro ver alguém cobiçar os pais de outros, pois isso é um fato imutável na vida do ser humano. Da mesma forma, não se deve cobiçar nada que não é seu. Assim como cada pessoa tem seus próprios pais que a trouxeram ao mundo, todo ser humano tem seu quinhão e sua missão na vida. Não se deve, portanto, cobiçar o que pertence a outrem.


Pensamento, fala e ação
Outro aspecto a ser analisado no estudo dos Dez Mandamentos é a sua seqüência. Os primeiros cinco mandamentos, contidos na primeira tábua, tratam do relacionamento entre D'us e o homem. Já os mandamentos da segunda tábua dizem respeito às relações entre seres humanos. Há quem diga que o que mais importa no judaísmo é a fé em D'us. Isto, de fato, tem suma importância, tanto que é o primeiro mandamento; mas, certamente, não é o único. Crer em D'us não é o suficiente. A Torá, portanto, nos ensina que a crença em D'us deve ser traduzida por cada pessoa em pensamentos, sentimentos, palavras e atos corretos e bondosos em relação aos outros.
O primeiro e segundo mandamentos tratam do pensamento: deve-se acreditar em D'us e rejeitar a idolatria. O terceiro mandamento trata da fala: não se deve jurar em falso. O quarto e quinto dizem respeito a ações: os atos referentes ao respeito aos pais e o cumprimento das ordens de D'us, simbolizadas pelo Shabat, que é a aliança entre o povo de Israel e o Criador.
É interessante notar que na segunda tábua, é invertida essa ordem -pensamento, fala e ação. O sexto, sétimo e oitavo mandamentos tratam de ações que não devem ser cometidas: assassinato, adultério e roubo. O nono mandamento trata da fala: o não testemunhar em falso. O décimo mandamento diz respeito ao pensamento: não se deve cobiçar. A segunda tábua ensina que não é suficiente não ferir nem prejudicar os outros. Também não devemos falar ou pensar mal dos demais. De fato, o ser humano só consegue alcançar sua plenitude quando age corretamente nesses três campos: o do pensamento, da fala e da ação.
Uma revelação inédita
A revelação do Todo Poderoso no Monte Sinai foi um evento inédito - algo que nunca ocorrera antes e que nunca voltará a ocorrer. Desde a Criação, nunca houve manifestação Divina tão explícita. O povo de Israel muito se preparou para esse dia tão especial. Os judeus tiveram que se refinar, física e espiritualmente, para receber a Revelação Divina.
Durante três dias, os judeus se purificaram espiritualmente. Foram proscritos o acesso ao Monte Sinai e as relações conjugais. Quando D'us Se revelou, 50 dias após o Êxodo do Egito, ouviram-se toques de Shofar e uma nuvem espessa cobriu a montanha. E quando D'us proferiu os Dez Mandamentos, o mundo inteiro entrou em total paralisação.
Conta o Midrash que nesse momento nenhum pássaro piou, nenhuma ave voou, nenhum animal emitiu som algum; as ondas do mar pararam e o vento cessou. Todas as criaturas pararam para escutar as palavras do Eterno.
Mas se analisarmos os Dez Mandamentos, percebemos que as ordens de D'us são relativamente simples. O conteúdo parece desproporcional ao preparo que foi necessário ao povo e à reação do Universo frente à maior experiência de todos os tempos. Pode-se pensar que o Povo Judeu se decepcionou ao ouvir preceitos tão elementares e básicos, como "não matarás" e "não roubarás". Talvez eles esperassem que D'us revelasse algo mais fantástico, completamente extraordinário - quiçá o desvendar dos segredos da Criação e de toda a existência. Porém, o fato de os Dez Mandamentos serem relativamente simples é uma prova de que a Torá foi dada para ser seguida por mortais falíveis. A Torá e seus mandamentos se aplicam a uma vida vivida dentro da normalidade do mundo. O fato de nos ligarmos a D'us, seguindo Suas leis, não exige que vivamos uma vida sobrenatural. A meta fundamental do recebimento da Torá é que suas leis e espírito permeiem todos os nossos atos, mesmo os mais cotidianos e mundanos.
Duas tábuas interligadas
Os mandamentos de nossa Torá estão divididos em duas categorias: as mitzvot ben Adam laMakom - os mandamentos entre o homem e seu Criador; e mitzvot ben Adam leChaveró - os mandamentos entre o homem e os outros seres humanos. Um dos motivos pelo qual os Dez Mandamentos foram entregues em duas, e não em uma única tábua, foi para delinear essas duas categorias de mandamentos e enfatizar que ambas têm igual importância. O ser humano alcança a sua plenitude apenas quando age corretamente com seus semelhantes e com o Eterno. É impossível ser um bom judeu, ou se considerar observante, se não se trata os outros seres humanos com consideração, respeito e boas maneiras. Por esse motivo, logo após a entrega dos Dez Mandamentos, as primeiras leis ensinadas ao povo foram aquelas relacionadas a indenizações e justiça social. Isto revela quão importante é para o Criador a responsabilidade financeira e o respeito em relação ao que pertence a outrem.

Por outro lado, é errôneo acreditar que é possível ser um bom judeu sem preservar e respeitar os mandamentos referentes às relações entre o homem e D'us. A Torá relata que pouco após a outorga dos Dez Mandamentos, o povo de Israel pecou ao fazer um bezerro de ouro. Eles cometeram esse grave erro porque acreditaram que Moshé Rabenu havia falecido, pois, decorridos 40 dias, ele não havia voltado do Monte Sinai, como combinado. Na realidade, o povo errou na conta e foi enganado pelo Yetzer Hará, o mau instinto. Os judeus, portanto, decidiram substituir Moshé por outro líder, o bezerro de ouro, que supostamente os guiaria. Este erro foi gravíssimo, pois violaram os dois primeiros Mandamentos que haviam acabado de receber: "Eu sou o Senhor, teu D'us" e "Não terás outros deuses". Está além do escopo desse artigo explicar os motivos, que na realidade não são simplórios, por trás desse erro. O que é relevante ressaltar é que o bezerro de ouro foi feito enquanto Moshé Rabenu encontrava-se no Monte Sinai, recebendo o texto da Torá, que estava sendo ditado por D'us. De repente, o Eterno ordena a Moshé que ele desça da montanha, pois o povo havia pecado produzindo um ídolo. Moshé, carregando as duas tábuas da Lei, desce do Monte Sinai e se aproxima do acampamento de Israel. No momento em que Moshé vê a estátua do bezerro de ouro e o Povo Judeu se curvando ao seu redor, ele quebra as tábuas.
Pergunta-se: por que Moshé quebrou ambas as tábuas? É inegável que o povo pecou ao desrespeitar os mandamentos contidos na primeira delas, os que dizem respeito à relação entre o homem e D'us. Mas, por que quebrar a segunda, também? Talvez os que fizeram o bezerro de ouro respeitariam as leis entre o homem e seus semelhantes. Moshé, no entanto, sabia que ambas as tábuas eram indivisíveis, por isso assim agiu. Quem não acredita em D'us e não O venera, mais cedo ou mais tarde acabará não respeitando, tampouco, as leis entre o homem e seus semelhantes. De fato, a história comprovou que a negação de D'us permite que o homem justifique tudo. Mesmo as civilizações culturalmente mais avançadas foram capazes de perpetrar e justificar o genocídio e a barbárie. Quando não há temor a D'us, o ser humano pode facilmente se tornar um animal irracional, sem piedade por outros, e pode banalizar à sua máxima expressão o valor da vida humana.
O grande sábio e cabalista, o Maharal de Praga, conhecido por ter criado o Golem, explica que a existência do ser humano é o resultado da união entre o corpo e a alma. Ele explica que esse é mais um motivo pelo qual os Dez Mandamentos foram dados em duas tábuas. A primeira tábua - que trata de mandamentos entre o homem e o Criador - está relacionada à alma; a segunda tábua - que dita as leis entre os homens - simboliza o corpo. De acordo com o Maharal, assim como o ser humano não pode viver se não houver união entre corpo e alma, também a Torá só se sustenta quando é composta pelos mandamentos de ambas as tábuas. A beleza da Torá é revelada apenas quando há harmonia entre todas as suas leis.
Todos os anos, em Shavuot, recitam-se os Dez Mandamentos nas sinagogas do mundo todo. Através dessa prática, estamos revivendo a Revelação no Monte Sinai, novamente aceitando os mandamentos e reafirmando não apenas o conteúdo de todos os preceitos, mas também as mensagens e ensinamentos que deles derivam.