5/30/2009

A questão do bem

Uma vez um grande doador se encontrou com o Rebe de Lubavitch(1) para apresentar um grande projeto para ajudar os judeus americanos. O objetivo era diminuir drasticamente as taxas de assimilação do povo. Após ouvir atentamente sobre um projeto de suma importância para ele, o Rebe perguntou: - O senhor coloca tefilin(filactérios que devem ser colocados no braço e na cabeça todos os dias)? Ele respondeu um pouco atônito: - Não creio que isso tenha relevância dada a dimensão do projeto sobre o qual estamos falando, mas a resposta é não. Então, o Rebe retrucou: - Não se pode salvar o mundo antes de modificar a si mesmo.

Creio que essa idéia é muito relevante para todos nós. Muitas pessoas querem fazer o bem. Vemos graves problemas nos jornais como a pobreza e as guerras sendo todos os dias noticiadas e sentimos que devemos contribuir para tornar o mundo um lugar melhor.


A nossa Torá nos ensina que, em primeiro lugar, devemos ser bons judeus. Isto é devemos cumprir as mitzvot. Tanto as que estão ligadas diretamente ao serviço a D-us como tefilin, kashrut(leis dietéticas), Shabat(o sétimo dia que deve ser dedicado só ao serviço a D-us), quanto as ligadas à nossa relação com o próximo como caridade, honrar os pais e não roubar. Depois, então, se pudermos afetar postivamente muitas pessoas devemos fazê-lo.

É bem razoável que os mandamentos ligados às relações interpessoais tragam o bem. Eles claramente fornecem um embasamento moral para uma sociedade. Quanto aos ligados à nossa relação com D-us, pode-se dizer que um indivíduo que tem sua vida permeada pela consciência do Criador tende a ser mais refinado e, por isso, bom. Além disso a Torá serve como um guia que, se consultado, evita algo muito comum atualmente: pessoas bem intencionadas que ao tentarem fazer o bem, trazem mais mal para o mundo. No entanto, será que é só?

Para entendermos isso, primeiro, devemos analisar o que é o bem na perspectiva da Torá. Em artigos anteriores, vimos que a Torá é divina, portanto, seus mandamentos são a vontade divina. Obviamente, ninguém pode saber melhor o que é o bem do que D-us. Por isso, se cumprimos a vontade Dele estamos fazendo o bem. Logo, D-us nos deu o dom de fazer o bem segundo a perspectiva Dele e, portanto, da forma mais significativa e abrangente que, ao mesmo tempo, está sempre à nossa mão: as mitzvot! Com isso, entendemos que somos capazes de fazer o bem em escala infinita, já que D-us é infinito.

Mas, como o bem se relaciona com o cumprimento dos mandamentos? Este é um tema complexo e muito explorado pela chassidut(exposição sistemática e mais acessível da Cabalá). Aqui, vou colocar de forma bem resumida e recomendo leitura complementar, especialmente do livro Tanya(2) que explica esses conceitos de forma mais apropriada:

1- Um dos objetivos dos mandamentos de uma forma geral é refinar as pessoas. A chassidut explica que temos uma alma divina e uma alma animal. A primeira vem para este mundo para refinar a segunda. Isto é feito, especialmente, com o cumprimento das mitzvot.

2- Não apenas nos refinamos, mas também elevamos o mundo. Por exemplo, ao comermos um pedaço de carne kasher e depois usarmos a energia da carne para uma mitzvá estamos elevando aquele animal que comemos.

3- Ao cumprirmos uma mitzvá trazemos uma "luz" divina para o mundo. Levamos mais espiritualidade para o mundo.

4- Os itens acima contribuem para trazer o bem supremo, a realização da intenção de D-us ao criar o mundo: que seja feita uma moradia para Ele neste mundo("dirab'tachtonim"). Isto ocorrerá com a chegada de Mashiach e a redenção final, que seja em nossos dias!

Sendo assim, a Torá não impede que façamos o bem de acordo com a nossa perspectiva. No entanto, é importante que olhemos para ela como um guia para sabermos se realmente estamos na direção certa. Além disso, e ainda mais importante, ao fazer uma mitzvá estamos fazendo o bem supremo, o bem na perpectiva divina!

Notas:

(1) Não poderia descrever melhor o Rebe de Lubavitch(1902-1994) do que o antigo chefe do rabinato de Israel, Rabino Mordechai Eliyachu, fez após visitá-lo: "Eu vi que nenhum segredo está escondido dele, e digo isso explicitamente. Ele sabe todo o Talmud, Poskim (precedentes legais), e nos livros místicos a sua compreensão é MUITO MUITO profunda. Ele é o mestre da luz. Ele é o mestre de toda a Torá, e é um expert em tudo o que acontece com Israel. Sua face brilha como um anjo de D'us e ele próprio está acima de qualquer anjo. Ele é o maior mestre da Torá na nossa geração e ninguém nunca chegou nem perto dele. E junto a isso tudo, ele se preocupa com todo judeu no mundo inteiro."

(2) É o monumental livro base da Chassidut Chabad. Foi escrito pelo primeiro Rebe de Lubavitch, o Alter Rebe, para seus chassidim. É baseado, especialmente, nos ensinamentos do Zohar, do grande cabalista Arizal, dos mestres chassídicos Magid de Mezritch e Baal Shem Tov. O objetivo principal do livro de acordo com o autor é mostrar como é "Perto de você na sua fala , no seu coração, fazê-lo", ou seja, como está ao alcance de qualquer pessoa esforçada, cumprir a Torá com entusiasmo e de forma plena. Ao longo da obra, vários conceitos cabalísticos são elucidados. Recomendo fortemente não apenas a leitura, mas o estudo sistemático! Na verdade, é até melhor aprender com um professor. Para isso procure o Beit Chabad mais próximo para ter aulas de Tanya. Se quiser comprar o livro pela internet com tradução e explicações em português vá para este link: http://www.sefer.com.br/produtos.aspxsubid=4&subn=Chassidismo&ctgn=Livraria&ctg=4


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