6/13/2010

O Tzadik, uma Expressão da Misericórdia Divina

Junto com os outros chassidim chabad, estou lendo o capítulo chamado Shaar HaYchud v'HaEmuná("Portão da Unicidade e da Fé") do livro Tanya(1). Como fica claro pelo nome, este livro procura fortalecer a fé na unicidade de D-us. Unicidade não apenas no sentido imediato de que há apenas um D-us, mas principalmente no sentido de que não há nada além Dele. Para isso, o autor traz ensinamentos cabalísticos sobre a criação do mundo, detalhando as fontes espirituais deste que, por sua vez, derivam de D-us obviamente.
Ele inicia o livro comparando a criação com o milagre da abertura do Mar Vermelho. Resumidamente, explica que se para alterar uma característica de um ente da natureza como a água(de fluidez para solidez) é necessário que D-us permaneça atuando por todo o período( como está escrito que um "vento soprava ao leste"), quanto mais isso não é verdade em relação a toda a criação que é "algo derivado do nada"( "iesh me ayn"). Com isso, ele impugna a visão filosófica que aceita a criação do mundo por D-us, mas não aceita a Providência Divina. Ao mesmo tempo embasa a visão chassídica, em particular, e judaica, em geral, que é expressa nas nossas preces diária quando dizemos: "hamechadesh betuvo bechol yom tamid maaseh bereshit"( que renova com Sua Bondade todos os dias a criação inicial do mundo"). Em suma, ele esclarece que a criação é um processo constante, sendo assim, não apenas Ele supervisiona a criação a todo instante, mas também a recria a todo instante.
Depois, ele detalha como se dá o processo criativo de D-us. Aqui, claro, vou apenas pincelar o que está descrito no livro. A Cabalá ensina que primeiro há vários ocultamentos da Emanação Divina, processo denominado "tzitzum". Isto é necessário, pois Esta é infinita e, por isso, Ela não permitiria, por assim dizer, a criação de nada além Dela. Após esta condensação, D-us proclama os Dez Enunciados("Esser Mamarot") que são o fundamento de toda a criação( tanto do mundo material quanto dos espirituais). Portanto, o mundo é criado pela Fala Divina e as letras do alfabeto hebraico são os canais pelos quais cada ser é criado. Desde o sol até uma simples pedra têm como fonte a Fala de D-us que é canalizada pelas letras do alfabeto hebraico. A diferença é que quanto mais as combinações de letras se distanciam dos Esser Maamarot, menor energia espiritual elas canalizam e, com isso, menos significante será a criatura, por exemplo, uma pedra(2).
Em meio a essas explicações o Alter Rebe faz uma digressão citando um midrash( explicação da Torá) que ensina o seguinte: D-us, inicialmente, quis criar o mundo com o atributo de Severidade, mas Ele percebeu que o mundo não ia aguentar. Por isso, adocicou a Severidade com o atributo de Misericórdia.
A primeira pergunta que se impõe é: se D-us é essencialmente Bom, por que ele quis criar o mundo com Severidade? Além disso, o que significa adocicar com Misericórdia?
Severidade é o atributo divino conectado com ocultamento("tzimtzum"). O mundo material é onde há o maior ocultamento da espiritualidade, a ponto de parecer que esta não existe. Então, D-us criou o mundo com este ocultamento para que pudéssemos ter livre arbítrio, já que se tudo estivesse claro para nós, não haveria escolha real. Que façamos a decisão certa é fundamental, pois isto é o que acarreta o objetivo da criação: que este mundo seja transformado numa moradia para D-us( conceito de "dirá b'tachtonim", já explicitado em alguns artigos deste blog). Então, já está respondida a primeira pergunta. Dado o objetivo da criação, nada mais razoável que criar o mundo com o atributo de Severidade. Quanto à segunda, D-us nos deu a Torá na qual vários milagres são descritos. Além disso, D-us nos deu os tzadikim(justos). Dessa forma, emancipamos-nos do mundo material, estudando a Torá e nos conectando com os tzadikim. Isto é o atributo de Misericóridia. Assim, nos é facultada a possibilidade de em meio ao turbilhão material do qual dificilmente escapamos quando estamos no mundo, de nos conectarmos plenamente com D-us. O que devemos fazer é estudar e praticar a Torá e nos conectarmos com os tzadikim.
Como esta semana, é o aniversário de falecimento do Rebe de Lubavitch, Rabino Menachem Mendel Schneerson, enfatizo aqui a importância da conexão com os tzadikim. O Rebe é o grande líder do povo judeu e tzadik de nossa geração. Então, se queremos nos elevar, a conexão com o Rebe é fundamental. Para isso, a sua presença física não é imprescindível. Como ele mesmo ensinou em seu livro Hayom Yom, a ligação com o Rebe se dá na medida em que estudamos sua Torá, seguimos seus ensinamentos e nos associamos com os que lhe são mais próximos, os seus chassidim.
Que a partir dessa semana possamos cada vez mais nos conectar com esse grande líder espiritual de nossa geração e, com isso, certamente fortalecermos nossa conexão com o Rei dos Reis, HaKadosh BaruchHú.(3)

Notas:
(1) Os chassidim também estão lendo esse capítulo porque ele faz parte do estudo anual do Chitas(Chumash, Tanya e Tehilim), instituído pelo Rebe Anterior e reforçado pelo Rebe.
O livro Tanya é o livro-base da chassidut chabad. O Shaar HaYchud v'HaEmuná está no volume três da tradução com explicações que existe em português. Claro que aqui fiz apenas um pequeníssimo resumo, por isso, recomendo fortemente a leitura deste capítulo do livro.
(2) Todos os antropomorfismos devem ser entendidos como metáforas que servem para que possamos entender um pouco mais sobre o que nos transcende completamente. Como está escrito: "a Torá é escrita na linguagem dos homens"( Mechita e Tanchuma em Shemot). Então, por exemplo, este nível de Emanação Divina é chamado de Fala, pois distingue-se por revelar algo ao outro, assim como a nossa fala...
(3) Para saber mais sobre este grande tzadik, clique no site do chabad aqui: http://www.chabad.org.br/rebe/index.htm. Hoje, há vários livros e sites com os ensinamentos do Rebe, traduzidos para português, inglês e espanhol.

5/20/2010

Algumas Lições do Baal Shem Tov

O Baal Shem Tov( Mestre do Bom Nome) foi o fundador do movimento chassídico(1) no século XVIII. Sem ele não haveria o movimento chabad-lubavitch e nenhuma outra linha chassídica. Por isso, certamente, o judaísmo estaria em apuros bem maiores atualmente. Por exemplo, imagine o mundo de hoje sem os batei chabad(2)!

Neste Shavuot, completaram-se 250 anos de seu falecimento. Aprenda alguns de seus ensinamentos abaixo.


Tudo é pela Providência Divina. Se uma folha é remexida por uma brisa, é só porque isto foi especificamente ordenado por D-us para atender a uma função específica dentro da finalidade da criação.

Cada coisa que uma pessoa vê ou ouve, é uma instrução a ele em sua conduta no serviço de D-us.

"Ame a teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18) é uma interpretação do e comentário de "Ame ao Senhor, teu D-us" (Deuteronômio 06:05). Quem ama um judeu ama D-us, porque o judeu tem dentro de si uma parte "de D-us acima" (Jó 31:2; ch Tanya ver. 2). Quando se ama um judeu, se ama a essência interior do judeu, e assim se ama D-us.

Amar um judeu é amar a D-us. Porque está escrito: "Vocês são filhos de D-us" (Deuteronômio 14:01), quando se ama o pai, amam-se seus filhos.

O amor de D-us por cada um e todo judeu é infinitamente maior do que o amor dos pais idosos a seu único filho nascido em sua velhice.

O amor de D-us estende-se não só à alma do judeu, mas também ao seu corpo. D-us ama todos os judeus, sem distinção, do maior gênio da Torá e estudioso judeu ao mais simples.

Os três amores - o amor a D-us, o amor a Torá, e o amor ao próximo - são na verdade um só.

Seu companheiro é seu espelho. Se o seu rosto está limpo, assim será também a imagem que você percebe. Mas se você olhar para os seus colegas e ver um defeito, é sua própria imperfeição que você está encontrando - é uma demonstração do que você deve corrigir dentro de si.

Unir-se a D-us é a chave mestra que abre todas as fechaduras. Todo judeu, incluindo o mais simples, possui a capacidade de conectar-se às palavras da Torá e da oração, e assim, atingir o mais alto grau de unidade com D-us

Existem dois níveis no estudo da Torá, a Torá da mente e a do coração. A mente cogita, compreende e entende, o coração sente. Eu vim para revelar a Torá como ela se estende ao coração também.

O Baal Shem Tov se identificava muito com a luz, e disse: "Or" (luz) é o equivalente numérico de "raz" ( segredo). Quem sabe o segredo das coisas pode trazer a iluminação.

"Ocultarei minha face naquele dia" (Deuteronômio 31:18). Galut (exílio) é uma dupla ocultação, na qual a ocultação em si é escondida. Tão grande é a ocultação, que pode-se nem sequer ter conhecimento dela, pode-se chegar a pensar na escuridão como luz.

"Procura a paz e siga-a" (Salmos 34:15). É preciso procurar os meios de fazer a paz e estabelecer a harmonia entre o mundo material e a força Divina que o vitaliza.

Perguntei a Mashiach, "Quando você vem?" e ele me disse: "Quando os seus mananciais se espalharem para fora."


Para mais lições, biografia e histórias, leia em inglês no link: http://www.chabad.org/generic_cdo/aid/388609/jewish/The-Baal-Shem-Tov.htm


(1) É o movimento fundado por ele que disseminou a Cabalá entre pessoas comuns e acentuou a importância da sua aplicação ao serviço a D-us. Assim, enfatizou a importância do amor entre os judeus, da alegria e da simplicidade. Várias linhas chassídicas foram formadas. O movimento chabad deriva dos ensinamentos do discípulo principal do Magid de Mezritch que, por sua vez, foi o herdeiro espiritual do Baal Shem Tov.

(2) São as casas onde os emissários do Rebe de Lubavitch exercem suas atividades. Elas estão espalhadas no mundo inteiro e ajudam todo e qualquer judeu que as procure.

5/16/2010

Shavuot e a Contagem das Essências

Costumamos ler a parashá Bamidbar - a primeira do livro Números na tradução da Torá -antes de Shavuot. Dada a precisão da Torá, é esperado que haja uma relação estreita entre a porção semanal e a festa. A primeira tem como assunto principal a contagem do judeus no deserto, a segunda é a comemoração da outorga da Torá para o povo judeu.
Para compreendermos a ligação entre uma e outra, temos que entender melhor o que cada uma significa.
No povo judeu, assim como em qualquer outro, há os mais virtuosos, capacitados, tementes a D-us e os mais desleixados, irresponsáveis e incapazes. Dessa forma, seria razoável imaginar que Moshé deveria valer por muitos, enquanto os piores no povo poderiam valer menos que um. No entanto, a contagem descrita na Torá tem como um dos objetivos justamente contrariar esta lógica. De Moshé ao menos qualificado, todos valem um. Isso significa que há algo nos judeus que é igual para todos, de forma que esta parte invariável que é contada. Esta é a essência da alma judaica, que é uma "parte de D-us" e, portanto, a mesma para todos.
Por outro lado, a entrega da Torá, basicamente, significa a quebra da barreira entre o material e o espiritual que antes era intransponível. Até então, mesmo para homens tão elevados quanto Avraham, Yitzchak e Yaakov, o material não podia ser elevado ao espiritual e o espiritual não podia ser trazido para o mundo material. A Torá quebrou este decreto, na medida em que associou algo tão espiritualmente elevado quanto a Vontade Divina com objetos tão materiais quanto a comida(Leis de kashrut), o vestário(tsitsit) e o dinheiro(tzedaká), além de também relacioná-la com objetos mais etéreos como o tempo(Shabat) e o intelecto( estudo da Torá).
Então, primeiramente, da mesma maneira que a Torá é a junção entre o espiritual e o material, ela só poderia ter sido dada para seres que são em si mesmos a junção do material com o espiritual, do corpo e da alma, o povo judeu. A Torá não poderia ser dada para seres somente espirituais, por mais elevados que fossem, pois eles seriam incapazes de realizar a intenção mesma da outorga da Torá: que o mundo material fosse elevado e que fosse feita "uma moradia para D-us na terra". Isto, apenas seres ligados diretamente com estes dois extremos, fazendo as mitzvot(mandamentos) e estudando a Torá poderiam realizar.
Além disso, entendemos o ensinamento fundamental de Rabi Akiva de que o resumo da Torá é "Ame a teu próximo como a ti mesmo". Isso é baseado na existência de uma unidade essencial do povo judeu que não é alterada de acordo com caráter, nível de observância ou inteligência. Isto é o que há de mais espiritual num judeu, a essência da alma. Então, aquele que, assim como a Torá, estima mais o espiritual do que o material, olha para o próximo como uma parte de D-us e não supervaloriza os seus defeitos. Dessa maneira, a contagem dos judeus é sempre lida antes do recebimento da Torá, para que nos recordemos desse conceito de unidade essencial e possamos receber a Torá nas mesmas condições em que ela foi recebida pela primeira vez, em que os judeus estavam tão unidos que a Torá usa linguagem singular para descrevê-los, ressaltando a sua união.
Que a partir desta terça-feira( 18/05 a 20/05) possamos receber a Torá com alegria e profundidade! Shavuot sameach!

4/11/2010

Mais comentários sobre Torá e Ciência

Na outra postagem sobre o tema tentei mostrar que a ciência , por vários motivos, deve ser colocada entre parênteses. Isto deve ser feito sempre, mas especialmente quando ela se coloca como portadora de verdades universais, como única fonte do saber e quando tenta explicar fenômenos retroativamente.
Apesar de esses princípios gerais serem sempre válidos, podemos abordar cada asunto de maneira diferente. Primeiro, temos que separar ciência de ideologia científica. Depois, temos que analisar na ciência as suas bases e argumentos. Por fim, devemos ver se ,na Torá, há opiniões consagradas que apoiam o ponto de vista científico ou pelo menos não o rejeitam.
Então, por exemplo, a teoria da evolução é apenas uma hipótese que, na verdade, ao ser testada, não se provou real. Nada foi replicado em laboratório, as espécies intermediárias não foram encontradas, as mutações são sabidamente deletérias e etc. Para mais detalhes recomendo o livro do Michael Denton "Evolution: A Theory in Crisis". Creio que esta teoria só se sustenta por ter se tornado uma ideologia científica que serve a vários interesses que vão desde os psicológicos dos próprios cientistas materialistas até político-sociais. Além disso, ao menos sobre a evolução do macaco para o homem, não há conciliação com a Torá já que esta usa a palavra hebraica "Bará" para a criação do homem. E esta significa criação a partir do nada, ou seja, não pode ter havido evolução. Neste caso, creio ser pouco relevante tentar reconciliar a Torá com a ciência.
Por outro lado, a questão da idade do universo é diferente. Tanto porque as evidências científicas sobre a questão são bastante poderosas quanto porque há opiniões consagradas da Torá de mais de 2000 anos atrás que corroboram esta visão.
O fato é que sabendo a velocidade da luz e a distância das estrelas, além de outros métodos os cientistas chegam a conclusão hoje de que o universo tem de doze a quinze bilhões de anos.
Já a Torá ensina que este tem apenas 5770 anos. No entanto, sabemos que cada ensinamento da Torá tem pelo menos 70 maneiras de serem interpretados("sheva panim baTorah"), mas estes nunca podem negar o sentido literal, o mais evidente.
Cabalistas anteriores ao Arizal(conehcido como o maior deles) da escola do Rabino Nehunya ben Hakana opinavam que, na verdade, o mundo existiria por sete ciclos sabáticos de 6000 anos e que nós estaríamos no último deles. Além disso, ensinavam que um dia divino equivaleria 1000 anos humanos( tudo isso são interpretações profundas de versículos da Torá). Então, se juntarmos as duas coisas teremos 42ooo anos de antes da criação vezes 365000 o que dá cerca de 15 bilhões de anos.
Dessa maneira, temos a conciliação da Torá com a ciência.
Todavia, ainda mais importante é conciliar a ciência com a Torá já que esta é a Sabedoria divina. Para isso, temos que lembrar do conceito reconhecido da física quântica de que o observador influencia o objeto observado. Em linguagem mais científica, o observador consciente(humano) provoca o colapso da função onda. Em termos cosmológicos isso significa que antes do primeiro homem( adam harishon) o universo tinha uma existência. Porém, esta era bem diferente da que ele passou a ter após a criação do homem. Antes, o que havia era uma espécie de superposição de possibilidades.
Assim, podemos entender por que a Torá nos ensina que o mundo foi criado há apenas 5770 anos. Pois, foi apenas a partir daí que o mundo de fato começou. Isto esclarece também o ensinamento de que o homem é parceiro de D-us na criação, já que ele é responsável por fazer a criação de fato existir.
Além disso, conciliamos também as duas opiniões da Cabalá. A mais antiga que diz que o mundo foi criado há cerca de 15 bilhões de anos com a do Arizal que diz que o mundo tem 5770 anos e que os ciclos sabáticos se referem a mundos espirituais. Na verdade, ambos estão dizendo o mesmo. A questão é que um está chamando essa superposição de todas as possibilidades que o mundo era antes de Adam harishon de mundo físico e a outra o chama de espiritual.
Com isso, vemos que podemos tratar diferentes dilemas de formas distintas, apesar de podermos também usar sempre a abordagem descrita no post anterior. Neste caso, achei relevante trazer uma outra visão pois a questão da idade do universo é uma aparente divergência central e porque tanto a ciência quanto a Torá traz bons argumentos para que consideremos a possibilidade de que o universo, ao menos de certa maneira, tenha bilhões de anos.

Para quem quiser aprofundar-se mais sobre o tema, recomendo a leitura do livro "Mind over Matter" que é uma coletânea de ensinamentos do Rebe sobre o tema; "Evolution: A Theory in Crisis" de Michael Denton; a seção sobre este tema no site do chabadhttp://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/435073/jewish/Torah-Science.htm, a visita ao site de uma revista que só publica textos sobre a relação entre Torá e ciência http://www.borhatorah.org/ e até um curso sobre filosofia da ciência do professor Olavo de Carvalhohttp://www.olavodecarvalho.org/avisos/cursofilosofiaciencia.html.

4/10/2010

Sobre a Verdadeira Liberdade

Em primeiro lugar, peço desculpas pela pouca atividade no blog, mas tenho tido pouco tempo para este espaço. No entanto, como ainda estamos no mês de Nissan e este é todo relacionado aos temas de Pessach, redenção e liberdadade, estamos num momento propício para abordarmos essas questões.
Pessach também tem o nome menos conhecido de Zman Cherutenu( Tempo de nossa Liberdade). Esse nome alternativo claramente destaca a saída da escravidão do Mitzraim(Egito) para a liberdade, primeiro no deserto e depois em Eretz Israel.
No entanto, não há nada na Torá que não seja relevante para os judeus do passado, de hoje e de sempre. Pessach, certamente, não foge a esta regra. Então, a mensagem clara é que devemos sair da escravidão para a liberdade neste momento também.
A palavra em hebraico para Egito, Mitzraim, vem de meitzarim( limitações). Isto já nos indica que escravidão para um judeu em termos espirituais significa ficar preso às limitações. Limitações à nossa liberdade, é claro. Mas, primeiro, será que realmente podemos ser livres? Em caso afirmativo, o que é ser livre? O que é liberdade?
No mundo secular, há duas formas de pensamento ligados a estas questões que fazem parte da cultura geral e influenciam as pessoas. Para cada tipo de discurso - seja acadêmico, militante ou popular - uma delas serve melhor.
A primeira é a noção gerada pelas teorias sobre o inconsciente de S. Freud de que o homem teria forças inconscientes em conflito e aquela que fosse vencedora acabaria por direcionar a sua ação. Ou seja, o homem seria governado justamente por aquilo que foge do seu controle, o inconsciente. Não é preciso dizer que isto diminui muito o valor do livre arbítrio e com ele dos valores éticos. Se o homem não é senhor de si mesmo, então como pode haver um julgamento moral sobre suas ações? Dessa maneira, a liberdade também é muito restrita.
Já para J. P. Sartre, autor que também influenciou muito o pensamento acadêmico e popular no século XX, nada é imutável e definitivo na condição humana, o homem seria " um projeto em suspenso" e "um ser para a morte". Isto é, ele escolhe quem será amanhã. No entanto, Sartre dá um passo adiante, dizendo que, por isso, o homem não deve ficar preso a nenhum valor ético de qualquer origem e que ele teria que escolher e até desenvolver valores para seguir ou até ,simplesmente, não os ter. Sendo assim, aqui, há livre arbítrio, porém, mais uma vez, não há ética ou, ao menos, a ética fica muito fluida e relativa.
É claro que houve muitos outros autores e fatores que implicaram a decadência moral do mundo em que vivemos, que trouxe consequências tão nefastas(é difícil imaginar que tragédias como os campos de extermínio nazistas ou os Gulags soviéticos acontecessem num ambiente moral mais elevado). Apesar disso, essas duas formas de pensar acabaram se misturando na cultura do século XX e são duas das causas deste fenômeno.
Por outro lado, o judaísmo, se não discorda da existência do inconsciente, ensina que ainda assim temos livre arbítrio. Todavia, o exercício do verdadeiro livre arbítrio é justamente escolher entre o certo e o errado, na linguagem da Torá, entre fazer a vontade de D-us ou desobedecê-la. Assim, tanto Freud quanto Sartre estão equivocados, apesar de que não completamente.
Então, em Pessach aprendemos que devemos sair das nossas limitações que muitas vezes são apenas internas(algumas até oriundas do inconsciente) para que possamos estar completamente livres para fazer a escolha certa. No salmo do rei David, esta se resumiria em: "sur merá ve assê tov, assê shalom ve radfehu"( "se afaste do mal e faça o bem, faça a paz e persiga-a").


2/22/2010

Purim!

Após este shabat(27/02), em 14 de Adar, começa Purim. Comemoramos o grande milagre que aconteceu nos tempos do rei Achashverosh, quando os judeus viviam sob domínio persa há mais dois mil anos atrás. Haman tinha influenciado o rei a assinar um decreto de destruição do povo judeu. Após jejum e orações de 3 dias da rainha Ester e de todo povo judeu, Haman foi desmoralizado e morto e o decreto foi revertido. Para mais detalhes veja a história completa de Purim no link: http://www.chabad.org.br/datas/purim/index.html.
Purim não é uma história espetacular. Não há milagres grandiosos como a abertura do Mar Vermelho ou a entrega da Torá no Monte Sinai. Mesmo assim, nossos sábios ensinam que se a entrega da Torá foi no Monte Sinai em Shavuot, o povo judeu só terminou de recebê-la em Purim. Por quê tanta importância é atribuída a essa data?
Bem, certamente, essa pergunta tem algumas respostas. Uma delas é que Purim nos ensina que quando realmente nos esforçamos para nos aproximarmos de D-us, ele responde e, com isso, nos unimos com Ele de uma forma diferente da união proporcionada por um grande milagre. Se o milagre proporciona maior revelação divina, a união entre o homem e D-us é maior quando nós que fazemos o serviço a Ele. E apesar de a entrega da Torá ter sido permeada por grandes milagres, ela demanda que nós nos esforcemos a cada dia para nos conectarmos com D-us. Nesse contexto, é que só recebemos a Torá completamente após Purim, isto é, só depois que nós nos empenhamos e vamos até ela.
Além disso, aprendemos que há milagres em que há um rompimento das leis da natureza e há outros que ocorrem dentro dos limites destas leis como no caso de Purim. Estes são mais frequentes e se aprendermos a notá-los, vamos apreciar a divindade com muito mais frequência. Com isso, podemos fortalecer nossa fé.
Por fim, Purim nos ensina que devemos ter alegria no serviço ao Criador. Que a alegria não se relaciona apenas a prazeres mundanos e a boas companhias, mas que a maior e verdadeira felicidade se dá justamente no serviço a D-us. Como está escrito: "Os mandamentos de D-us são justos, eles alegram o coração". O inverso também é real. Esta alegria verdadeira é fundamental para o serviço sagrado. Como está escrito: " a alegria quebra barreiras".
Mas, chega de teoria. Vamos a prática. No sábado à noite homens e mulheres têm a mitzvá de ir a sua sinagoga para ouvir a Meguilat Esther. No domingo de dia esta mitzvá deve ser repetida e acrescenta-se também o "mishloach manot"(envio de porções de alimentos para pelo menos um amigo - uma coca-cola com um biscoito é o suficiente), o "matanot la evionim"(presentes/dinheiro para os pobres - não precisa ser diretamente) e uma refeição festiva em que se coma pão. Veja que são mitzvot ao alcance de qualquer um! Para mais detalhes, clique no link http://www.chabad.org.br/datas/purim/index.html.
Purim sameach! E lembre-se: " mi she nichnas Adar marbim be simchá"
( quando chega Adar, aumentamos em alegria)!

1/15/2010

Cometários sobre Torá e Ciência

Muitas pessoas afastam-se da Torá por pensarem que a ciência já negou as Escrituras. Elas pensam que a ciência já comprovou que o mundo tem bilhões de anos ou que o homem evoluiu do macaco e, que, portanto é apenas mais um ser que por coincidência está aqui na Terra e etc. Com isso, a Torá torna-se, para elas, apenas um conjunto de tradições, estórias e leis antigas que por vezes são até interessantes, mas nada que deva ser levado muito a sério.
Aqui não tenho a pretensão de esgotar o tema, mas apenas de expor alguns pensamentos sobre isso e indicar material para leitura sobre o assunto.
Esta postura de crença total na ciência corresponde a uma atitude do século XIX que refletia a ciência do século XVIII em que se acreditava que esta seria capaz de nos revelar as causas de tudo. Um ótimo exemplo é a mecânica de Newton que expõe o mundo como uma máquina em que tudo se encaixa. Infelizmente, até hoje é esta idéia de ciência que aprendemos nas escolas. No entanto, apenas analisando algumas citações de grandes cientistas da mais consistente das ciências, a Física, vemos que o conceito mudou muito. Veja o que Einstein diz: "Os conceitos da física são livres criações do espírito humano e não são, embora possa parecer, determinados unicamente pelo universo externo". E Heisenberg: "Não observamos mais a natureza mesma, mas a natureza submetida a nosso método de questionamento".
São citações que nos ajudam a entender basicamente que a ciência tem grandes limitações. Primeiro, há a limitação do método, isto é, a investigação da realidade é limitada à capacidade do método de investigá-la. Então, se recorta a realidade e estuda-se esse recorte com um determinado método limitado. Segundo, a ciência não expressa a realidade externa apenas, ela é sujeita ao investigador. A realidade que percebemos não é a realidade mesma.
Veja que aqui estou falando do melhor a que a ciência pode chegar. Isto sem contar que há interesses financeiros, políticos, profissionais, psicológicos envolvidos quando se trata de cientistas e instituições de pesquisa. Um bom exemplo contemporâneo deste tipo de interesse prejudicando a pesquisa científica é a questão do aquecimento global que é alardeado como uma tragédia para a humanidade, enquanto hoje vários cientistas já são céticos em relação ao fenômeno ou pelo menos em relação a antropogênese deste. Apesar de não divulgado adequadamente pela imprensa brasileira, é fácil encontrar na internet que os cientistas do aquecimento global estavam forjando dados para favorecer os seus interesses e os de seus financiadores. Veja: http://www.anovaordemmundial.com/2009/12/ultima-noticias-sobre-o-climategate-e-o.html e http://scienceandpublicpolicy.org/images/stories/papers/originals/Monckton-Caught%20Green-Handed%20Climategate%20Scandal.pdf.
Longe de mim fazer pouco da ciência. Considero-a atividade importante e tenho apreço por ela. Além de muitas vezes nos ajudar a saber mais sobre pontos da realidade, ela é um dos elementos importantes para o avanço tecnológico em várias áreas que ajudam o homem a ter uma vida mais confortável como a informática, as comunicações e a medicina. Apesar de também termos que lembrar que esta mesma tecnologia pode ser voltada para fins destrutivos. A energia atômica é um bom exemplo disso.
Quero apenas colocar a ciência no seu devido lugar e retirá-la do posto de fornecedora de verdades absolutas. Se a ciência falha gravemente mesmo no estudo de assuntos como o aquecimento global que estaria acontecendo aqui e agora, quanto mais ela não é falível ao investigar o que teria acontecido há bilhões de anos ou mesmo há 5770 anos quando o mundo começou a existir ou quando a vida originou-se ou sobre a verdade da evolução das espécies? Por exemplo, a ideia de que a vida teria surgido casualmente, é totalmente anti-científica já que a probabilidade de isso ter acontecido é ínfima( e a ciência hoje trabalha basicamente com probabilidade e não com causalidade) e nenhum teste de laboratório conseguiu ver isto acontecendo. Pelo contrário, naturalmente, as coisas tornam-se mais simples e não mais complexas. A teoria da evolução também já está há muito tempo na berlinda, já que os fósseis em série não foram encontrados, ou seja, a transformação de uma espécie para outra não foi encontrada( o próprio Darwin dizia que se isto não acontecesse sua teoria estaria errada). Além disso, hoje sabemos que as mutações são prejudiciais de uma forma geral e não levam a "vantagens adaptativas". Então, por quê estas teorias não são descartadas? Porque a outra hipótese não é científica. Tanto porque ela não faz parte do escopo da ciência quanto porque ela não é admitida pela ideologia científica. Nominalmente, estou falando de D-us. Então, "já que só temos uma hipótese, vamos acreditar nela até o fim".
Dessa maneira, vemos, primeiro, que muito do que nos é passado como ciência é apenas ideologia travestida de ciência. Segundo, que mesmo o melhor da ciência tem graves limitações que são reconhecidas por grandes cientistas como Einstein.
Por outro lado, é fácil compreendermos que a Torá é a Sabedoria divina. Portanto, eterna e perfeita(Veja aqui no blog os textos de maio de 2009). Então, quando confrontamos a Torá com a ciência devemos nos lembrar das inúmeras limitações da ciência e do caráter ilimitado da Torá. Assim, vamos aproveitar o que há de melhor nas duas. Na primeira, o conhecimento maior de aspectos específicos da realidade e o conforto da tecnologia. Na segunda, uma enorme consciência e conexão diária com o Criador do universo, o conhecimento Dele e de verdades universais.

Para quem quiser aprofundar-se mais sobre o tema, recomendo a leitura do livro "Mind over Matter" que é uma coletânea de ensinamentos do Rebe sobre o tema; "Evolution: A Theory in Crisis" de Michael Denton; a seção sobre este tema no site do chabad http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/435073/jewish/Torah-Science.htm, a visita ao site de uma revista que só publica textos sobre a relação entre Torá e ciência http://www.borhatorah.org/ e até um curso sobre filosofia da ciência do professor Olavo de Carvalho http://www.olavodecarvalho.org/avisos/cursofilosofiaciencia.html.