5/16/2010

Shavuot e a Contagem das Essências

Costumamos ler a parashá Bamidbar - a primeira do livro Números na tradução da Torá -antes de Shavuot. Dada a precisão da Torá, é esperado que haja uma relação estreita entre a porção semanal e a festa. A primeira tem como assunto principal a contagem do judeus no deserto, a segunda é a comemoração da outorga da Torá para o povo judeu.
Para compreendermos a ligação entre uma e outra, temos que entender melhor o que cada uma significa.
No povo judeu, assim como em qualquer outro, há os mais virtuosos, capacitados, tementes a D-us e os mais desleixados, irresponsáveis e incapazes. Dessa forma, seria razoável imaginar que Moshé deveria valer por muitos, enquanto os piores no povo poderiam valer menos que um. No entanto, a contagem descrita na Torá tem como um dos objetivos justamente contrariar esta lógica. De Moshé ao menos qualificado, todos valem um. Isso significa que há algo nos judeus que é igual para todos, de forma que esta parte invariável que é contada. Esta é a essência da alma judaica, que é uma "parte de D-us" e, portanto, a mesma para todos.
Por outro lado, a entrega da Torá, basicamente, significa a quebra da barreira entre o material e o espiritual que antes era intransponível. Até então, mesmo para homens tão elevados quanto Avraham, Yitzchak e Yaakov, o material não podia ser elevado ao espiritual e o espiritual não podia ser trazido para o mundo material. A Torá quebrou este decreto, na medida em que associou algo tão espiritualmente elevado quanto a Vontade Divina com objetos tão materiais quanto a comida(Leis de kashrut), o vestário(tsitsit) e o dinheiro(tzedaká), além de também relacioná-la com objetos mais etéreos como o tempo(Shabat) e o intelecto( estudo da Torá).
Então, primeiramente, da mesma maneira que a Torá é a junção entre o espiritual e o material, ela só poderia ter sido dada para seres que são em si mesmos a junção do material com o espiritual, do corpo e da alma, o povo judeu. A Torá não poderia ser dada para seres somente espirituais, por mais elevados que fossem, pois eles seriam incapazes de realizar a intenção mesma da outorga da Torá: que o mundo material fosse elevado e que fosse feita "uma moradia para D-us na terra". Isto, apenas seres ligados diretamente com estes dois extremos, fazendo as mitzvot(mandamentos) e estudando a Torá poderiam realizar.
Além disso, entendemos o ensinamento fundamental de Rabi Akiva de que o resumo da Torá é "Ame a teu próximo como a ti mesmo". Isso é baseado na existência de uma unidade essencial do povo judeu que não é alterada de acordo com caráter, nível de observância ou inteligência. Isto é o que há de mais espiritual num judeu, a essência da alma. Então, aquele que, assim como a Torá, estima mais o espiritual do que o material, olha para o próximo como uma parte de D-us e não supervaloriza os seus defeitos. Dessa maneira, a contagem dos judeus é sempre lida antes do recebimento da Torá, para que nos recordemos desse conceito de unidade essencial e possamos receber a Torá nas mesmas condições em que ela foi recebida pela primeira vez, em que os judeus estavam tão unidos que a Torá usa linguagem singular para descrevê-los, ressaltando a sua união.
Que a partir desta terça-feira( 18/05 a 20/05) possamos receber a Torá com alegria e profundidade! Shavuot sameach!

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