4/10/2010

Sobre a Verdadeira Liberdade

Em primeiro lugar, peço desculpas pela pouca atividade no blog, mas tenho tido pouco tempo para este espaço. No entanto, como ainda estamos no mês de Nissan e este é todo relacionado aos temas de Pessach, redenção e liberdadade, estamos num momento propício para abordarmos essas questões.
Pessach também tem o nome menos conhecido de Zman Cherutenu( Tempo de nossa Liberdade). Esse nome alternativo claramente destaca a saída da escravidão do Mitzraim(Egito) para a liberdade, primeiro no deserto e depois em Eretz Israel.
No entanto, não há nada na Torá que não seja relevante para os judeus do passado, de hoje e de sempre. Pessach, certamente, não foge a esta regra. Então, a mensagem clara é que devemos sair da escravidão para a liberdade neste momento também.
A palavra em hebraico para Egito, Mitzraim, vem de meitzarim( limitações). Isto já nos indica que escravidão para um judeu em termos espirituais significa ficar preso às limitações. Limitações à nossa liberdade, é claro. Mas, primeiro, será que realmente podemos ser livres? Em caso afirmativo, o que é ser livre? O que é liberdade?
No mundo secular, há duas formas de pensamento ligados a estas questões que fazem parte da cultura geral e influenciam as pessoas. Para cada tipo de discurso - seja acadêmico, militante ou popular - uma delas serve melhor.
A primeira é a noção gerada pelas teorias sobre o inconsciente de S. Freud de que o homem teria forças inconscientes em conflito e aquela que fosse vencedora acabaria por direcionar a sua ação. Ou seja, o homem seria governado justamente por aquilo que foge do seu controle, o inconsciente. Não é preciso dizer que isto diminui muito o valor do livre arbítrio e com ele dos valores éticos. Se o homem não é senhor de si mesmo, então como pode haver um julgamento moral sobre suas ações? Dessa maneira, a liberdade também é muito restrita.
Já para J. P. Sartre, autor que também influenciou muito o pensamento acadêmico e popular no século XX, nada é imutável e definitivo na condição humana, o homem seria " um projeto em suspenso" e "um ser para a morte". Isto é, ele escolhe quem será amanhã. No entanto, Sartre dá um passo adiante, dizendo que, por isso, o homem não deve ficar preso a nenhum valor ético de qualquer origem e que ele teria que escolher e até desenvolver valores para seguir ou até ,simplesmente, não os ter. Sendo assim, aqui, há livre arbítrio, porém, mais uma vez, não há ética ou, ao menos, a ética fica muito fluida e relativa.
É claro que houve muitos outros autores e fatores que implicaram a decadência moral do mundo em que vivemos, que trouxe consequências tão nefastas(é difícil imaginar que tragédias como os campos de extermínio nazistas ou os Gulags soviéticos acontecessem num ambiente moral mais elevado). Apesar disso, essas duas formas de pensar acabaram se misturando na cultura do século XX e são duas das causas deste fenômeno.
Por outro lado, o judaísmo, se não discorda da existência do inconsciente, ensina que ainda assim temos livre arbítrio. Todavia, o exercício do verdadeiro livre arbítrio é justamente escolher entre o certo e o errado, na linguagem da Torá, entre fazer a vontade de D-us ou desobedecê-la. Assim, tanto Freud quanto Sartre estão equivocados, apesar de que não completamente.
Então, em Pessach aprendemos que devemos sair das nossas limitações que muitas vezes são apenas internas(algumas até oriundas do inconsciente) para que possamos estar completamente livres para fazer a escolha certa. No salmo do rei David, esta se resumiria em: "sur merá ve assê tov, assê shalom ve radfehu"( "se afaste do mal e faça o bem, faça a paz e persiga-a").


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