10/23/2009

O Rebe e Victor Frankl

Em 1992, uma mulher de 85 anos vestida elegantemente e com aparência jovial e enérgica entrou na sala do rabino Jacob Biederman, emissário do Rebe na Áustria, e com sorriso no rosto se apresentou como cantora de ópera aposentada e a primeira emissária do Rebe em Viena! "Eu sei que você pensa que é o primeiro por aqui, mas eu sou a primeira na verdade! Muito antes de você!"
Resumindo a história dela, Margareta Chayos era descendente de uma família de Rebes de Vishnitz (uma das várias linhas chassídicas) que havia deixado sua casa tradicional para ir para "o mundo real". Foi para Viena antes da guerra e se tornou uma famosa cantora de ópera nos anos 30. Em 1939, chegou a cantar duas vezes para o próprio Hitler! Mas, quando a Segunda Guerra começou, sua carreira em Viena terminou e ela conseguiu ir para os EUA. Sua famíla e amigos pereceram na guerra e no holocausto. Muito tempo depois por providência divina, Margareta teve uma audiência particular com o Rebe: " Eu entrei no quarto do Rebe, não sei explicar, mas de repente, pela primeira vez após o Holocausto, senti que podia chorar. Como muitos que perderam famílias e comunidades inteiras, eu nunca tinha chorado. Nós sabíamos que se começássemos a chorar, poderíamos não parar mais ou que para sobreviver não poderíamos expressar emoções. Mas, naquele momento, era como se o que obstruia minha torrente de lágrimas houvesse sido removido. Comecei a derramá-las como um bebê. Dividi com o Rebe minha história: infância inocente, saída de casa para Viena, me tornando um celebridade, me apresentando diante de Hitler, escapando para os EUA, sabendo sobre a morte dos meus mais próximos amigos e familiares."
O Rebe ouviu com seus olhos, com seu coração, com sua alma, e internalizou tudo. Dividi tudo e ele absorveu tudo. Naquela noite, senti que tinha ganhado um segundo pai. Senti que o Rebe me havia me adotado como filha.
No final do nosso encontro, expressei meu desejo intenso de voltar a Viena e o Rebe me pediu que antes de ir, eu o visitasse novamente.
Então, alguns meses depois antes de viajar para Viena me encontrei com o Rebe e ele me pediu dois favores. Primeiro, que eu visitasse o Rabino Chefe de Viena e o segundo que eu visitasse um certo professor na Universidade de Viena. O Rebe falou em alemão para que eu pudesse entender: Seu nome é Dr. Frankl. Mande minhas lembranças e diga a ele no meu nome que ele não deve desistir. Ele tem que continuar firme e continuar seu trabalho com vigor e paixão. Se ele assim fizer, ele vai prevalecer."

Apesar das dificuldades em encontrar o tal doutor, ela conseguiu chegar à casa dele:

" Uma mulher abriu a porta e eu vi atrás dela um quarto cheio de cruzes, deveria haver algum engano, não pode ser esta a casa da pessoa que o Rebe queria encorajar, mas mesmo assim perguntei pelo professor.
Momentos depois um homem de meia idade veio para a porta, ele estava extremamente tenso, e parecia bastante desinteressado. Eu disse: Tenho lembranças do Rabino Schneerson do Brooklyn, NY. "Quem é esse?", ele perguntou impacientemente.
O Rabino Schneerson me pediu para te dizer em nome dele que você não pode desistir, você tem que continuar forte com seu trabalho e com determinação inabalável que você vai vencer. Não caia no desespero. Se você marchar com confiança, ele prometeu que você vai conseguir grande sucesso.
O professor mudou. Ele olhou para mim como se estivesse vendo um fantasma. Um minuto depois ele estava chorando como um bebê. " Eu não posso acreditar nisso" ele dizia repetidamente enquanto fazia um gesto para eu entrar. "
Após acalmar-se, ele disse: "Esse rabino do Brooklyn sabia exatamente quando enviá-la. É um verdadeiro milagre! Você me salvou!" Ele começou a chorar novamente e não sabia como agradecer.
Rabino Biederman, ela disse com um sorriso, isto aconteceu há mais de 40 anos, , então sou emissária do Rebe muito antes de você! "
Depois de ela ir embora, o intrigado rabino Biederman começou a investigar e descobriu que Victor Frankl ainda estava vivo com 87 anos e que ele era bem famoso. Era também um doador regular para o Chabad House de Viena!
Então, ele ligou para o doutor Frankl e perguntou se ele lembrava dessa história. Ele disse: "Não lembro do nome da mulher, mas claro que lembro daquele dia! Nunca vou esquecer isso! Minha gratidão ao rabino Schneerson é eterna!" Então, ele se convidou para a casa do Dr. Frankl onde ficou sabendo do resto da história.

"Ele me contou que ainda jovem ele destacou-se no estudo de neurologia e psiquiatria e no começo dos anos 20, ele fez parte do círculo do famoso Dr. Sigmund Freud.
Mas, quando os nazistas tomaram o poder tudo mudou. Ele, seus pais, sua mulher grávida e todos que lhe eram queridos foram para campos de concentração. Todos foram mortos, exceto ele. Mas, apesar de tudo, ele manteve um espírito positivo. E este era o seu problema!
Já antes da guerra e durante seus três anos nos campos de concentração,ele desenvolveu idéias contrárias às dominantes teorias negativas de Freud e seus discípulos.
Freud acreditava que humanos são animais vulneráveis e egoístas, governados pelo passado, por frustrações subconscientes e tomados por neuroses, complexos e psicoses. O único própósito da terapia, de acordo com ele, era liberar o paciente destes problemas, nada mais. Mas, Frankl ensinou que a essência do homem é a sua capacidade de auto-transcendência, nunca definida por circunstâncias da vida e limitações, pelo contrário, responsável por reformar estas condições, definindo seu significado e mensagem"
Disse Frankl:
"Nós que vivemos nos campos de concentração nos lembramos das pessoas que ficavam confortando as outras, dando-lhes seu último pedaço de pão. Talvez, fossem poucas, mas elas são prova suficiente de que tudo pode ser tirado do homem exceto uma coisa: A última das libedades humanas - escolher que atitude tomamos em qualquer circunstância, escolher o nosso caminho".
No entanto, nas universidade dos anos 40/50 as idéias Freudianas reinavam e as de Frankl eram descartadas como religiosidade fanática, que ressucitava conceitos antigos e não científicos de consciência, fé e obrigação. Para os estudantes não era popular ir aos seus cursos.
"Rabino Biederman, exclamou Frankl, eu sobrevivi aos campos de concentração e mantive meu espírito lá, mas não conseguia sobreviver ao impiedoso desprezo dos meus colegas. Finalmente, após anos disso, eu estava exausto e deprimido. Fiquei melancólico e decidi parar. Eu não tinha amigos, incentivadores ou discípulos. Comecei a preparar os papéis da minha aposentadoria.
Então, subitamente, uma mulher aparece me mandando lembranças do rabino Schneerson do Brooklyn! Esperança! Inspiração! Eu não podia acreditar no que estava ouvindo! Alguém no Brooklyn, nada menos do que um Rebe chassídico, sabia sobre mim! Me apreciava! Ele se importava. Naquele momento, eu não era ninguém, rejeitado e sozinho! Isto foi um milagre! Como ele fez isso?
De fato, as palavras do Rebe se tornaram verdade. Eu lutei! E, pouco tempo depois, me deram uma Cadeira na universidade. Meu livro "A Busca do Homem por Sentido" foi traduzido para o inglês e de repente me tornei um dos mais celebrados psiquiatras da geração.
Alguns anos atrás, o Chabad veio para Viena e eu passei a ser um doador."

Pelo menos, o rabino Bierderman entendeu por que ele recebia um cheque por correio sempre antes do Yom Kipur.
O livro do Victor Frankl se tornou uma pedra fundamental para uma virada na psicologia, colocando-a num caminho mais positivo. Ele escreveu 32 livros que foram traduzidos para 30 línguas. Ele tornou-se palestrante convidado de 209 universidades nos 5 continentes, recebeu 29 doutorados honorários de universidades de todo o mundo( mais do que qualquer outra pessoa) e recebeu 19 prêmios nacionais e internacionais pelo seu seu livro " A Busca do Homem por Sentido" que vendeu 10 milhões de cópias e foi listado como um dos mais influentes do século pela Biblioteca do Congresso(americano)!
Mas a história ainda não acabou.

Em 2003, o doutor Shimon Crown, um chassid australiano e expert no pensamento de Frankl, foi visitar sua viúva católica. Eles falaram durante horas e num determinado momento, ela pegou um par de tefilin e tzitzit e mostrou a ele: " Meu marido colocava-os todos os dias, ele nunca perdeu um dia!"

Para mim essa história é muito interessante por três motivos. Primeiro, porque um dos autores que me influenciaram antes de eu ficar observante foi o Victor Frankl. Eu nunca poderia imaginar que o Rebe tivesse tido uma influência tão grande na vida dele, apesar de saber que o ele o recomendava quando era perguntado sobre psicologia. Depois, porque ela mostra a influência que o Rebe tem sobre todos os judeus e como ele se importa com todos. E isto, certamente, fez com que ele influenciasse o mundo todo de forma positiva, já que como neste caso, ele teve papel importante na vida de pessoas que, por sua vez, influenciaram milhões de outras de muitas religiões e etnias diferentes. Por fim, ela é mais um exemplo (neste caso na psicologia), de conciliação entre Torá e ciência. Essa que muitas vezes ocorre, mas nem sempre é possível nem necessária contanto que saibamos em que cada uma delas consiste. Mas, isso já é outro assunto. Com a ajuda de D-us, vou escrever um pouco sobre isso em breve.


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